Analisar uma quantidade maior de dados, com mais precisão, é o que leva a IA aos departamentos financeiros
“Debater a chegada da inteligência artificial à gestão financeira das empresas é debater um futuro que está prestes a chegar para todos nós – em vários casos, já chegou. Daí a importância deste encontro”: foi com essas palavras que Magali Leite, Presidente da Diretoria Executiva do IBEF-SP, abriu a primeira edição do “AI CFO Day”. O evento foi realizado pelo Instituto no dia 3 de maio, em parceria com a SAP e o Cubo Itaú, e com patrocínio da KPMG Brasil.
A abertura do evento contou também com as participações de Filipe Guimarães, coordenador de Corporate Success do Cubo Itaú, Gustavo Conrado, CFO da SAP Brasil e Frank Meylan, Head de Tecnologia, Transformação Digital e Inovação da KPMG Brasil e América do Sul.
Corrida tecnológica – Ao pensarmos no uso da Inteligência Artificial (IA) pelos departamentos financeiros de grandes, médias e pequenas empresas, surgem duas preocupações básicas: o respeito aos parâmetros éticos aplicáveis a IA e, ao mesmo tempo, o cuidado para não engessar o desenvolvimento de tal tecnologia – até porque a inteligência artificial aplicada às finanças será vital para as empresas, e muitos governos mundo afora estão investindo nisso. O Brasil, e as companhias atuantes no país, não podem ficar para trás nessa corrida.
Trata-se de um alerta feito por Matheus Souza, Chief Innovation Officer da SAP Latam, no painel “Como trabalhar com inteligência artificial de forma ética”. Ricardo Santana, Sócio-líder de Data&Analytics, Automação e Inteligência Artificial da KPMG no Brasil, também ressaltou a velocidade das mudanças em curso: “Quantos modelos de IA sua companhia está criando neste momento?”. Sua intenção foi deixar clara a inevitabilidade da adoção desta tecnologia e do surgimento de inúmeras inteligências artificiais voltadas às finanças empresariais.
Paradoxalmente, é provável que o resultado dessas transformações seja tornar o trabalho humano cada vez mais valioso à medida que a inteligência artificial avança, liberando os profissionais de tarefas repetitivas e operacionais e potencializando uma atuação mais estratégica da área financeira sobre o negócio. É o que observou Glaucia Rosalen, CFO da Microsoft. “Estamos, todos nós, apenas dando os primeiros passos nesta jornada. Os usos potenciais da IA são extremamente numerosos”.
Preparação é necessária – A adoção efetiva de inteligência artificial requer que as empresas estejam organizadas. Só assim a implantação da IA nas finanças terá êxito: “Não podemos automatizar o caos”, cravou Barbara John, Sócia-líder de Finance e Backoffice Transformation da KPMG Brasil. “Teremos de repensar de forma integrada todos os nossos processos”, destacou a palestrante no painel que tratou dos desafios na utilização de IA nos processos de negócios financeiros.
Julio Nunes, Superintendente de Compras no Itaú Unibanco, chamou atenção também para o investimento em capital humano. “Acho importante que voltemos a ter educação formal dentro das companhias se quisermos que todos os nossos colaboradores sejam capazes de lidar com a IA”, recomendou ele. Nunes foi além: “Temos também de repensar a cultura de treinamentos corporativos que temos hoje. Ela dará conta, sendo como é, de ensinar algo que fica mais complexo a cada dia, caso da inteligência artificial?”
A área de finanças de cada corporação, não importa seu tamanho, encontrará uma IA para si. Isso pode ser desde a adoção de soluções já existentes por parceiros, desenvolvimento interno ou por encomenda a algum fornecedor. Isso possibilitará a utilização da inteligência artificial cujos parâmetros e funções sejam exatamente os que a corporação em questão precisa; nem mais, nem menos.
“Defendo que o principal desafio nessa questão é encontrar o equilíbrio entre as características que a empresa deseja em seu departamento financeiro e aquilo que uma IA tem condições de entregar, em termos de eficiência, para a empresa em questão”, afirmou Tamara Dzule, CFO da Mastercard Brasil.
Caso prático de IA em finanças – Diego Barreto, CFO do iFood, apresentou como a companhia, uma plataforma digital que conecta consumidores, entregadores, restaurantes e varejistas, tem utilizado a inteligência artificial para potencializar suas operações. Dentre os casos citados, está até mesmo o uso de IA para prever com maior acuracidade as mudanças no comportamento dos consumidores em dias de jogos de futebol, e seus impactos na oferta e demanda pelo serviço de entrega e respectivos preços.
Diego ressaltou que a inserção da IA na gestão das finanças das companhias é um passo obrigatório e sem volta, mas que não pode ser dado a partir do nada: antes é preciso investir na estrutura de dados da empresa. “Não há como criar inteligência artificial sem aportes volumosos em capital tecnológico (hardware e software) e em capital humano (treinamento de equipes)”, observou o CFO do iFood.
É importante também contar com colaboradores comprometidos em aprender acerca deste novo mundo. Gustavo Conrado, CFO da SAP Brasil, falou da importância de que cada profissional esteja aberto aos ventos de mudança que vêm soprando na direção dos executivos de finanças. “Há aprendizados a serem feitos e novas aptidões a serem adquiridas: economistas, administradores e contabilistas passarão a ter como colegas de trabalho cientistas de dados, e todos só terão a ganhar apoiando e ensinando uns aos outros”, defendeu ele.
Ao final do evento, os participantes desfrutaram de um happy hour no rooftop do Cubo, no qual aprofundaram o networking e compartilharam seus insights sobre o tema.