CFOs que têm medo de se tornar CEOs são casos comuns no consultório da psicanalista Selma Regina Pato Vila. Muitas vezes, executivos e executivas competentes se veem paralisados pela insegurança de seguir adiante.

“A mudança de CFO para CEO exige sair da zona de conforto técnica e lidar com relações humanas de forma mais intensa. Mais do que o medo de se expor, a grande trava é o sentimento pessoal de que não vai dar conta do desafio”, observou Selma.

Há quase duas décadas a sócia-diretora da DEEP – companhia especializada em reestruturação comportamental em organizações com foco no aumento de produtividade – ajuda pessoas e empresas a tomarem posse de seus talentos e vencer bloqueios. Ela foi a palestrante convidada do IBEF Mulher para a reunião de 12 de julho.

Perda da integridade – As executivas têm um componente adicional nesse desafio: resgatar a integridade do potencial feminino de gestão.

A exemplo das lendárias amazonas, guerreiras que cortavam o seio direito para melhor manejar o arco e flecha nas batalhas, muitas executivas abriram mão de parte das características femininas para conquistar espaço no mundo corporativo – cujos cargos de decisão ainda são dominados por homens.

“Por que muitas mulheres se descaracterizaram? Porque adotar aspectos masculinos era a referência disponível para sucesso no mundo corporativo”, disse Selma. “Contudo, muitas perderam a integridade de suas qualidades. Abandonando, sem perceber, grande parte de sua natureza feminina”.

A desconexão da integridade de sua natureza pode também resultar na perda da maior capacidade histórica da mulher: a integração.

“O feminino integra. Enquanto a reprodução da riqueza era feita pelos homens, nos campos de batalha, as mulheres cuidavam da manutenção da riqueza nos castelos, da integração entre diferentes classes e de alianças estratégicas. A ação da mulher evitou muitas guerras”, destacou Selma, que é também historiadora.

Valorização do feminino – A capacidade de integração é justamente uma das grandes qualidades que os headhunters buscam em CFO com potencial para se tornar CEO, afirmou Selma. “É uma qualidade inata às mulheres, e às vezes desperdiçamos isso”.

As guerras não são mais o principal motor de reprodução da riqueza da sociedade, posição agora ocupada pela criação de novas tecnologias e modelos de negócios. A criação vem da criatividade, valor também feminino, apontou a especialista. Juntamente com a habilidade de comunicação – cada vez mais valorizada nas empresas.

“Nesse novo mundo da comunicação, integração e ligação, as mulheres podem ampliar seu espaço! Elas ainda não tomaram posse de todo seu potencial. Mas serão cada vez mais presentes na liderança desse novo momento histórico, porque essas características fazem parte de sua essência”, destacou Selma.

Como resgatar o potencial? – O processo terapêutico é uma grande ferramenta para que homens e mulheres encontrem o equilíbrio psíquico necessário para tomar posse de seus talentos e vencer desafios.

“Quando temos um bloqueio ou medo, ficamos cegos para o fato de que só chegamos até este momento porque enfrentamos todos os desafios anteriores”, destacou Selma. “Esquecemos das nossas realizações e que, sim, conseguimos dar conta de nossas vidas – é o que sempre fizemos “.

O conforto gerado pela sensação de controle sobre os números, sobretudo para os executivos financeiros, pode desaparecer diante das situações geradas pela incontrolável matemática da vida.

“É comum sentir medo ou achar que não está pronto para viver um novo desafio. E como poderia estar pronto se nunca viveu isso antes? Você só descobrirá isso fazendo”, disse a psicanalista.

A vida é movimento e as pessoas mudam o tempo todo, lembrou Selma. “A única certeza que temos é que nosso ego pode sim dar conta desse movimento e das transformações da vida porque isso faz parte da jornada humana – e nada do que é humano pode nos surpreender”, completou.

A psicanalista também destacou que tem sido cada vez mais frequente aplicar o processo terapêutico nas empresas para ajudar equipes a vencer bloqueios de energia e atingir metas ousadas.

“Quando jogamos sementes em um solo árido, desconhecedor de seu propósito, apenas 5% delas brotarão. Quando preparamos esse terreno e mostramos a ele sua vocação, 95% germinarão. Mexer com a parte estrutural de uma empresa é trabalhar o solo, e os treinamentos são as sementes”.

(Reportagem: Débora Soares)