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Entre desafios e conquistas: Camila Abel destaca os caminhos que a levaram a ser primeira mulher na posição de CFO da CBA

A carreira de Camila Abel Correia da Silva soma 22 anos de experiência no mundo corporativo financeiro. Ela já trabalhou em empresas multinacionais e brasileiras e, recentemente, tornou-se a primeira mulher a galgar a posição de CFO da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). A executiva falou sobre os desafios, conquistas e aprendizados de sua trajetória na mentoria do IBEF Conecta Jovem, realizada em 22 de fevereiro, na sede do IBEF-SP.

A coragem de sair da zona de conforto para alçar voos maiores, mesmo que seja necessário um movimento ousado, foi uma das grandes mensagens dessa mentoria. Camila começou a contar sua trajetória a partir do ingresso no Bank Boston, em janeiro de 2002, na mesa de produtos de crédito. Foram três anos de aprendizado, até chegar na AES Brasil, focada no setor de energia, onde ficou por sete anos e meio e acumulou diversas funções e experiências na tesouraria e no planejamento financeiro até chegar ao cargo de gerente de análise de investimento e M&A.

A passagem pela área de planejamento financeiro foi de grande valia, por ter forte conexão com o negócio. “Na parte técnica, cheguei sabendo de contabilidade e tributário apenas na teoria pelo curso de administração e o MBA posterior que fiz, então essa experiencia me desenvolveu muito nessas áreas. Já para adquirir mais conhecimentos para liderar a área de análise de investimentos, fiz cursos relacionados às métricas de valuation. Conclusão: a minha experiência de gerente acumulou grandes desafios, que envolveram novos conhecimentos técnicos, além de estruturação e gestão de time, pois a área era nova, como um braço do planejamento financeiro, tendo que gerir pessoas em um tema que não era do meu domínio”, disse ela.

Dicas para crescimento e adaptação em uma nova empresa

Camila lembrou que os seis meses iniciais após uma mudança de área ou de empresa são sempre os mais difíceis. “Nesse período, é preciso aprender com o novo contexto e ir trabalhando para deixar a sua rotina, time e processos mais alinhados com a sua ‘cara’, logicamente em linha com a cultura da empresa, sendo então um ciclo em que acabamos nos dedicando muito! É aí vem dois pontos interessantes: disciplina e estudo! Em uma função ou em uma área nova, precisamos buscar estudar sempre, conversar com profissionais da área, fazer benchmark (participar do IBEF-SP ajuda a enriquecer muito esse lado), procurar amigos e pessoas com experiências diversas… São fatores que sempre me ajudaram muito em minha trajetória profissional”.

Foram mais de sete anos de crescimento na AES Brasil. Contudo, a executiva sentiu que estava pronta para voos mais ousados. “Foi então que decidi investir em uma reviravolta na minha vida e ir para a OAS S.A., em 2012, uma empresa que crescia que estava com um plano de expansão relevante, incluindo o braço de investimento com atuação em vários setores de infraestrutura. Gostei muito do desafio de mudar de setor”, destacou a executiva.

Segundo Camila, o crescimento profissional tende a acontecer naturalmente dentro de uma empresa, pois o colaborador vai ficando mais maduro e adquirindo cada vez mais conhecimento. Mas isso não fica tão evidente quando este mesmo profissional troca de empresa e assume uma nova posição. “Quando você vai para uma nova empresa e assume o escopo para alocar seu conhecimento, num momento mais maduro, é muito legal. Acabamos contribuindo mais do que imaginamos”, disse a mentora.

Gestão de crise e mudança para uma nova indústria

Camila destacou que conseguiu contribuir bastante para a OAS em vários aspectos, como na estruturação de uma área de planejamento financeiro consolidando todos os negócios do grupo, com métricas financeiras padrão para monitoramento da performance dos negócios. “O início do trabalho visitando os negócios e entendendo bem as especificidades de cada um fez toda diferença”, disse a mentora. Foram três anos e meio na companhia até que a Operação Lava-Jato foi deflagrada, em 2014, um conjunto de investigações que impactou o grupo, dentre várias empresas públicas e privadas citadas. A executiva, que havia assumido há pouco tempo como CFO da OAS Empreendimentos, apoiou por alguns meses o processo de estruturação da recuperação judicial e, então, decidiu fazer uma nova mudança.

E nada como sempre sair de uma empresa com as portas abertas, não é mesmo? Foi assim que Camila Abel recebeu o convite para voltar à AES Brasil. “Voltei para a AES como diretora, com reporte direto ao CFO, e acabei atuando em várias áreas, incluindo tesouraria, seguros, planejamento financeiro, RI, análise de investimentos e, por fim, a estruturação da área de gestão de riscos corporativos”, lembrou Camila. Ela deu mais uma dica aos participantes: aceite convites para novos projetos e desafios, tendo experiência em outras áreas quando possível. 

Camila ficou por seis anos como diretora financeira na companhia. Contudo, algo que parecia ser um caminho natural não aconteceu: quando a empresa ficou com a vaga de CFO disponível, a decisão foi buscar um profissional no mercado, e não quem já estava na casa. Essa decepção foi o ponto de virada para que Camila decidisse fazer uma nova mudança na carreira.

Ousadia para fazer novos movimentos

Camila voltou a abrir suas portas para novas oportunidades, quando surgiu uma vaga na Companhia Brasileira de Alumínio, do Grupo Votorantim, a única empresa de alumínio que estava na busca do IPO, para ser listada na B3. Inicialmente, a oportunidade não era para CFO, e sim como gerente geral de finanças. Mesmo assim, a executiva aceitou a “mudança de ares” para uma indústria totalmente nova, abandonando a zona de conforto de um segmento em que tinha mais de dez anos de experiência.

“Naquele momento, reconhecer que o escopo da posição era mais importante do que o cargo em si fez toda diferença e a posição me brilhou os olhos”. Camila assumiu a tesouraria, controladoria, planejamento tributário, fiscal, gestão de riscos financeiros e a estruturação da área de RI.  “Era um momento especial, já que a CBA estava fazendo seu IPO e liderar a área de RI no início do capital aberto é muito diferente de estar à frente da área em uma empresa multinacional e de capital aberto há muitos anos”, disse Camila sobre o seu começo na CBA.

A mentora destacou a importância de nos primeiros meses após o ingresso em uma companhia, manter uma “visão externa” sobre os temas, para trazer contribuições das experiências anteriores ainda sem estar abduzido pelo sistema com muitas urgências. Gosto muito da frase “não confunda movimento com progresso” do Peter Drucker, para construirmos avanços sustentáveis. O que fez diferença: “ter a humildade de aprender com os colegas, o time, em uma indústria que era nova para mim, construindo parcerias valiosas desde o início”, disse a executiva, que também buscou aprimorar seu posicionamento na nova empresa.

Sua evolução dentro da CBA acabou sendo natural. Após um pouco mais de 1 ano e meio na empresa, ela soube, em dezembro de 2022, que chegava a hora de virar a CFO da CBA. “Desde então, foi um período de cinco meses de transição até assumir a posição. Foi um momento muito especial, já que a empresa e os times são grandes, incluindo TI, além de todas as áreas de finanças”, complementou.

Contribuição para a comunidade financeira

Camila também se tornou diretora executiva do IBEF-SP, de 2021 a 2023. Inicialmente membro da Comissão Técnica de Tesouraria, a executiva foi se envolvendo nas atividades do Instituto e acabou sendo promovida a líder da Comissão, após a saída de Elaine Olivetto para a licença-maternidade.

“Esteja sempre aberto para novos projetos, como aconteceu com o IBEF-SP. Cerca de uma vez por mês, eu estava nesta sala do Instituto e acabei conhecendo muita gente de outros setores. Em menos de um ano, a coordenadora Elaine saiu de licença e, como eu era tão participativa, posteriormente assumi a coordenação em seu lugar. Trouxe uma série de ideias e contatos de mercado. Depois de alguns anos na coordenação da CT de Tesouraria e Riscos, fui convidada pela Luciana Medeiros para me tornar parte da diretoria executiva, tudo sempre pro bono e em horários fora da rotina de trabalho. Topar participar de todos estes projetos e empresas me gerou esta combinação de quem sou. Então estejam sempre abertos às oportunidades”, destacou Camila.

Ela contou que algo que contribuiu muito para o desenvolvimento de sua carreira foi a terapia. “Sempre busquei ver o lado positivo das coisas, mas esse processo me ajudou a entender as motivações para a minha vida pessoal e profissional, especialmente a aceitação de que não é possível fazer a gestão ou controle de tudo. As coisas acabam fluindo naturalmente e extrair o melhor das oportunidades que surgem faz a diferença. Descobrir sua motivação não é fácil, não acontece em uma reunião; é algo que demanda tempo. Quando penso no que quero daqui para a frente, em minha vida, me vem a simples frase de melhoria contínua: ‘hoje melhor do que ontem e pior do que amanhã’, essa é a minha filosofia”, finalizou a CFO da CBA.

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