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Crise do novo coronavírus gera transformação em negócios, pessoas e processos

A crise do novo coronavírus (COVID-19) trouxe à tona para as empresas uma transformação de maneira acelerada. Com a adaptação ao digital, as companhias viram seus negócios, pessoas e processos serem impactados, enfrentando novos desafios que não estavam necessariamente em seu planejamento para os próximos anos. De maneira geral, as companhias globais estão aproveitando a crise para identificar oportunidades em meio a essa transformação. Durante o Webinar “CFO Global Operando no Brasil: Day After COVID-19, Aprendizados e Desafios nos Negócios”, realizado no dia 20 de maio, os membros do IBEF Global compartilharam suas experiências nos primeiros 60 dias de contenção da pandemia.

O líder do Comitê, Pierluigi Scarcella, que também é Business Director do grupo Ascensus, destacou que a companhia atua em diferentes segmentos e o desafio principal foi o de adaptar os negócios. “Temos quatro unidades e tivemos que readaptar todas a este momento de pandemia. O que me chamou atenção no primeiro momento foi que teremos um grande desafio de globalização. O mundo que imaginamos globalizado vai mudar, provavelmente. Os próximos desafios serão das empresas e indústrias de supply chain em rever o atual modelo de concentração de fornecedores estratégicos”. Segundo ele, a transformação dos negócios também passou a ser da migração do físico ao digital. “Os negócios, só atuando do ponto de vista físico, acabaram. O modelo deve ser híbrido a partir de agora”, ressaltou.

A adaptação tecnológica, acelerada após o início da pandemia, foi um ponto que muitas empresas relataram como de importante transformação. “Esse tema não é exclusivo à indústria de serviços e e-commerce, mas essa transformação gera muitas oportunidades”, disse Scarcella. “Teremos, hoje, um mundo muito mais digital, e as empresas, que terão que atingir o consumidor em todas as esferas, entrando no conceito de omnichannel. E a transformação digital vai ajudar a nos adaptarmos para tomar as melhores decisões”, complementou.

Do presencial ao virtual – Um dos desafios da crise é o aumento da carga de trabalho. Muitos executivos financeiros relatam que a pandemia gerou aumento nesse volume, que passou a ser virtual, e há pouco controle do limite entre trabalho e descanso. “Esse é um ponto interessante, pois o trabalho virtual, ao mesmo tempo que dá acesso à informação pessoal, facilitando a conexão e dando oportunidade de não sair de casa, requer também uma visão estratégica”, disse Renata Muramoto, CFO da Deloitte. “Se não souber quais os trade offs, será consumido pela avalanche de dados. O momento agora é de buscar equilíbrio”, destacou.

A gestão do tempo passa a ser diferente a partir de uma transformação digital, e os executivos da área de finanças já notaram o impacto dessa mudança em seus processos. “Aprendemos que reuniões podem ser feitas virtualmente, repriorizamos tarefas, e o desafio é fazer as pessoas desligarem do trabalho, pois o que importa não é o volume de atividade, e sim a qualidade, a demanda e a rotina”, disse Luiz Alexandre de Medeiros Araújo, CFO da Hughes. Para ele, o papel do líder financeiro é fazer a equipe pensar nessa nova gestão do tempo. “Muita gente está com dificuldade de liderar seus times à distância”, complementou. Já Stania Moraes, CFO da Ciena, disse que em outros países há menos dificuldade em se adaptar ao virtual. “Agora, além de ver como separamos a vida pessoal e profissional, o grande desafio tem sido o da saúde mental; como estamos lidando com isso emocionalmente”, destacou.

Novos processos – Pensando nas oportunidades de mudanças trazidas pela crise, Mario Janssen, CEO da BMW Serviços Financeiros, destacou que a área de supply chain deve se transformar. “No setor automobilístico temos uma das cadeias mais complexas no ponto de vista de logística. A situação atual é adequar a logística, assegurar a cadeia com fornecedores, e mantê-los presentes, além de adequar o máximo possível a questão de capital de giro”, disse. Para ele, o foco deve ser em não gerar interrupção nos processos, e para isso é preciso manter uma boa cadeia em funcionamento. “Se houver interrupção, podemos chegar a uma situação drástica de estoque, o que pesa no capital de giro”.

Paulo Mendes, CFO da SAP, reiterou a importância de pensar em toda a cadeia, tendo um pensamento sistêmico, ou todos serão prejudicados, enquanto Carlos Alberto Bezerra de Moura, CFO da BRF, reforçou que o conceito mais importante da cadeia de suprimentos é o de interdependência. “Não fazemos nada sozinhos”, disse. Alexandre Staffa, CFO da Suhai, completou dizendo que há um olhar forte em resultado e produtividade aos CFOs, mas neste momento, a necessidade está em ter uma objetividade maior. “Os projetos que tocamos à distância estão mais objetivos, temos que focar no que deve ser entregue”, disse.

Segundo Staffa, as equipes estão mais focadas e produtivas, o que deve agregar valor às companhias no pós-crise. “A lição para nós CFOs foi ter menos uma visão de caixa, de guardar fundamentos, e olhar mais para o valor a partir de uma visão sistêmica. Todos os CFOs, no primeiro momento de crise, protegem o caixa, e num segundo momento vimos a necessidade de olhar clientes e fornecedores, e talvez tendo até que abrir mão de caixa”. Segundo ele, muitas empresas precisaram emprestar dinheiro para proteger parceiros. “Temos que abrir mão do caixa de forma mais estratégica, e isso veio como aprendizado grande nesta crise”, ressaltou.

Pessoas – Do lado de pessoas, Pierluigi Scarcella destacou a capacidade dos líderes de apoiarem suas equipes à distância, de maneira humanizada. “Passada a primeira e segunda semana de adaptação ao home office, conseguimos dar um apoio ao bem estar emocional para as lideranças. Se olhou principalmente para a parte humana, e não só ao prazo de entrega. A preocupação com as pessoas e suas famílias foi uma das prioridades”, disse. Os líderes financeiros, de maneira geral, notaram que a revolução tecnológica muda o comportamento das pessoa, gerando impacto na economia, no governo e no comportamento social. Renata Muramoto destacou que a primeira revolução da crise é a sanitária, e a questão da sobrevivência está forçando a todos a buscarem mais tecnologia, gerando novos comportamentos. “Agora vemos, mais do que nunca, a necessidade de colocar em prática mudanças”, disse.

O momento é de aprendizado, e a crise, que não tem precedentes, acaba forçando uma comunhão de propósito. Segundo Sergio Dias, sócio da PwC, essa comunhão de propósito acabou convergindo para o que há de mais importante nas empresas: as pessoas. Adicionalmente “Há agora uma responsabilidade social ainda mais acentuada dentro das organizações, independentemente do seu segmento de atuação. Esses são os elementos que mais me marcaram nesse período de pandemia”, destacou. Ele citou ações de companhias, como o movimento “Não Demita”, que expressam, de forma clara, a preocupação com as pessoas. “São ações dessa natureza que acabam por refletir a efetiva preocupação dessas organizações com o “Cuidado” com suas pessoas e isso é o maior exemplo da mudança comportamental. Isso veio para ficar”, opinou. João Ribeiro, CFO da Dell, complementou dizendo que a crise também levantou o desafio da desigualdade social, e mais do que nunca, as empresas precisam transformar isso com responsabilidade social. “Temos falado sobre solidariedade, humildade, que serão temas do nosso dia a dia”.

Não somente pensar em entregas e processos, mas pensar no contato humano tem sido uma das preocupações das empresas. No caso de Luiz Alexandre, da Hughes, a crise mostrou a importância de combinar o trabalho em um ambiente que tenha afetividade. “Cada um passa por um momento diferente, mas estamos na mesma tempestade. Combinar afetividade com efetividade, além da confiança, é essencial”. Ele destacou ainda que a pandemia é uma excelente oportunidade para gerar uma quebra de paradigma. “Temos que nos preparar para o que o futuro, que vai existir sem pandemia, e as relações que vão permanecer”.

Mudanças – A crise também traz oportunidades de mudanças, e para João Paulo Seibel de Faria, CFO da Didi/99, o maior impacto no Brasil se dará nos empregos. “A pandemia é um sinal forte que temos que preparar as novas gerações para um modelo mental diferente do de hoje. Quando a economia se recuperar, nem todos os empregos estarão 100% de volta. Teremos uma mudança na empregabilidade e mais uma vez isso mostra que o Brasil está a uma distância maior para se preparar para as mudanças”. Ele ressaltou, contudo, que esse momento gera reflexões sobre como é possível colaborar com a futuras gerações que chegarão ao mercado de trabalho.

Pierluigi Scarcella também destacou que as crises vêm e vão, e o mundo pós-COVID será mais solidário, mais digital e, provavelmente, mais higiênico. “As mudanças que estamos vendo em relação aos cuidados com o próximo mostra que sairemos da crise com um mundo muito melhor. Essa é uma mensagem de otimismo”, complementou.

 

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