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A importância do accountability no ambiente de trabalho

Em live realizada pelo IBEF SP, no dia 23 de outubro, foi discutido o tema “Accountability: tão essencial para indivíduos quanto para organizações”, tendo como moderador Clayton Bernardes, CFO da Cadam S.A., e como participantes José Beraldo, CFO, Investidor e Conselheiro, e Rita Eltsinof, Diretora Executiva de Pessoas da RE Treinamentos. O norte da discussão foi sobre como se tornar accountable, ou como se tornar um CFO melhor.

Mas, antes de falar sobre como se tornar accountable, o que é accountability? Segundo Rita, é a habilidade de tomar responsabilidades para si e gerar respostas com resultados que agreguem valor. Essa habilidade possui três elementos básicos, que são:

  • Proatividade: não esperar uma oportunidade para então agir de maneira responsável;
  • Mão única: prestar contas sem esperar ser solicitado; e
  • Humildade: manter postura de respeito pelo outro.

Essas são as características que se espera que alguém accountable tenha desenvolvidas, além de ter uma postura ética, preocupação com as pessoas e saber resolver problemas assim que surgem.

Essas exigências provavelmente não são novidade porque elas têm sido requisitadas cada vez mais, principalmente agora, durante o período de quarentena e, inclusive, podem parecer que é mais coisa para se carregar nas costas, mais um possível burnout no currículo (em fala de Clayton Bernardes, quase todos os CFO’s já tivera burnout e isso era visto como algo positivo, pois era sinônimo de alguém workaholic), porém, desenvolver as soft skills, dentre as quais se encontra o accountability, serve justamente para gerar um equilíbrio nas funções.

Desenvolvendo o accountability – De acordo com Rita, são necessários quatro passos, chamados de “VASF”, para se desenvolver o accountability. São eles:

  • Veja: ver a realidade como ela é, aceitando outros pontos de vista, sabendo ouvir quando pedirem por feedback;
  • Aproprie-se: assumir como seu, por meio de comprometimento pessoal, aprendendo com o sucesso e com o fracasso, sem perder o alinhamento com o objetivo. Conhecer as circunstâncias e assumir o controle sobre seu comportamento diante delas, reconhecendo que não pode controlar tudo, saber delegar.
  • Solucione: comprometer-se com a solução do problema e assumir a responsabilidade por tal solução. Fazer sempre a pergunta: “O que mais eu posso fazer?”
  • Faça: remover os obstáculos em direção aos resultados. Execute o que diz que fará. Focar nas prioridades, sem culpar outros, mantendo ambiente de segurança.

Ou seja, resumidamente, podemos dizer que é a capacidade de liderar em detrimento de apenas dar ordens. Liderar é convencer pelo exemplo, daí a importância da pessoa ter um bom caráter e uma boa postura que possa servir de inspiração para todos na equipe e também na empresa como um todo. Não é apenas “fazer”, mas é “ser”; é um processo de desenvolvimento que demanda mudanças internas, autoconhecimento e que leva tempo, por isso, pode parecer difícil num primeiro momento, mas o lado positivo é que essas mudanças, se bem desenvolvidas, gerarão benefícios não só para a empresa, mas para a vida da pessoa como um todo.

Um exemplo citado por José Beraldo foi o de um amigo médico cirurgião, que fazia transplantes de fígado com órgãos que muitas vezes outros médicos não aceitariam, e ele assumia a responsabilidade pelos riscos que poderiam ocorrer ao tomar essa decisão (era accountable). Beraldo observou nesse médico algumas características que hoje considera “pré-requisitos” para que uma pessoa seja accountable: propósito (para esse médico, salvar vidas era seu maior propósito), habilidade técnica (sendo muito mais hábil que seus pares, suas estatísticas de sucesso eram muito superiores), suporte da equipe e boa comunicação (com equipe, família dos pacientes e com os próprios pacientes). Esse médico é hoje considerado um dos melhores do país. Sendo assim, a partir dessa e de outras observações, Beraldo considera que ser accountable é um comportamento e uma habilidade que podem ser adquiridos, como quaisquer outras, porém tem sempre seus pré-requisitos que devem ser observados e desenvolvidos.

Outra consideração importante feita por Beraldo é a de que o Brasil é atualmente o segundo país com o maior índice de casos de burnout. O motivo para o burnout é o ambiente de trabalho negativo, no qual as equipes não estão alinhadas, não existe avaliação e feedback para os funcionários, a comunicação é ruim e simplesmente não está preparado para executar o trabalho e não existe propósito. Para Beraldo, todas essas características negativas no ambiente de trabalho, que geram o burnout, são as que impossibilitam as pessoas de desenvolverem accountability.

Portanto, trabalhar na qualidade do ambiente de trabalho, além de possibilitar desenvolvermos os soft skills, como accountability, reduz também a probabilidade de burnout entre os colaboradores. Isso é ainda mais crítico, pois a partir de janeiro de 2022, o burnout passará a ser doença ocupacional, o que pode gerar uma série de ações judiciais para as empresas. Atenção ao trabalho em equipe e à capacidade de saber se comunicar e de se relacionar com o outro, são elementos de atenção neste momento. Gerar resultados continua sendo importante porque é isso o que a empresa precisa mostrar ao final do dia para continuar suas atividades, mas ela só irá continuar assim com as pessoas aprendendo a serem accountables, dividindo tarefas, em vez de concentrar tudo nas mãos de um, enquanto os outros “só fazem sua parte” e deixam o resto para quem está na posição de liderança.

Influência cultural – Também foi discutida na live como que a cultura influencia no desenvolvimento do accountability. Quando se fala em “responsabilidade” é senso comum a ideia de ter um emprego, cumprir suas tarefas no local de trabalho e pagar as contas. Mas responsabilidade, accountability, vai muito além disso. Como dito no começo deste artigo, significa até uma postura de vida, é uma questão de consciência, de realmente estar atento ao meio ao seu redor e conectado às pessoas, vendo-as não apenas como peças de uma engrenagem, mas como pessoas que de fato são. É saber se relacionar e ter um interesse real pelo o que se faz, daí a importância de se ter um propósito, de realmente gostar do que se faz, porque quando esse propósito existe e a pessoa está se dedicando ao trabalho que gosta, todas as características citadas acima surgem naturalmente, são mais fáceis de serem desenvolvidas. Antes, pensava-se que a pessoa nascia com determinadas características, mas hoje se sabe que o DNA não é o fator que determina quem a pessoa irá se tornar: são as escolhas dela que determinam isso e ela sempre pode aprender, não importa a idade.

  • Desenvolvendo as soft skills nos jovens – outro ponto importante que foi tratado na live foi como desenvolver as soft skills no público jovem, recém-saído da faculdade, pois é fato que a maioria aprende muito sobre hard skills, sai com uma técnica incrível, mas com uma inteligência emocional baixa, inteligência essa que, segundo Rita Eltsinof, é a base para se desenvolver o accountability, porque através dele temos a capacidade de nos compreender, de lidar com nossas próprias emoções de maneira produtiva e também de reconhecer as emoções de outras pessoas. Inclusive, de acordo com Beraldo, o ideal é criar as condições para que o accountability possa ser desenvolvido, definindo muito bem os objetivos de cada equipe, comunicando esses objetivos e capacitando a equipe para execução.

Contudo, o lado positivo, como disse Beraldo, é que essa quarentena pode ter ajudado a desenvolvermos nossos soft skills, sendo um deles o accountability.

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