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Inovação é caminho para fazer a travessia na crise

Em meio a um cenário de crise econômica e política, CFOs se reuniram para compartilhar suas percepções e expectativas setoriais no almoço da Diretoria Vogal, realizado na última sexta (07), no hotel Unique. O evento contou com o patrocínio da IBM.

Fotos: Mario Palhares

Na ocasião, foram apresentadas duas novidades do IBEF SP: a criação do Índice de Confiança do CFO (I-CFO) e uma nova premiação voltada para empresas, o Golden Tombstone.

Com lançamento previsto para este ano, o I-CFO será um índice trimestral que vai capturar as expectativas dos CFOs em relação ao cenário macroeconômico, seus setores de atuação e a performance de suas empresas. O novo indicador surge para preencher uma lacuna de informação no mercado e representar as opiniões dos líderes de finanças.

Um dos grandes diferenciais do I-CFO, explicou Adriano Mussa, diretor acadêmico da Saint Paul Escola de Negócios (instituição responsável pela base técnica do indicador), é que ele permite mensurar a intenção de investimentos das empresas, indo além das variáveis macroeconômicas. Essa intenção se mostrará tanto em relação a Capex como Opex, bem como crescimento orgânico e operações de M&A. O I-CFO também permite analisar os indicadores de resultados financeiros por setor, tornando-se uma valiosa ferramenta de consulta para a tomada de decisão.

O Golden Tombstone, por sua vez, será o novo prêmio instituído pelo IBEF SP. Destinada a empresas, a premiação vai laurear a melhor operação financeira de 2015. As operações serão avaliadas dentro de três categorias: dívida, capital e fusão/aquisição. De dentro dessas categorias sairão as três operações finalistas e apenas uma será eleita a grande vencedora. Serão premiados os envolvidos na montagem da operação, como instituições financeiras, auditores externos, escritórios de advocacia, além da empresa.

As inscrições para a premiação serão abertas no final de 2015 e a cerimônia de entrega do prêmio ocorrerá em 2016. “É algo que sem dúvida vai trazer algo diferente para o mercado financeiro”, comentou Carlos Alberto Bifulco, presidente do Conselho Consultivo do Instituto.

Rodada de análises setoriais

“É importante estarmos reunidos aqui nesses momentos”, destacou a CFO da IBM Brasil, Gabriela Gaytan. Durante a sua participação no evento, Gabriela ressaltou que todas as empresas estão com novos concorrentes em seus mercados.  O crescimento de novos negócios, em especial os que nascem dentro do conceito de economia colaborativa, demonstram que mais do nunca as organizações precisam se reinventar, estimulando a inovação e buscando fazer negócios de maneiras diferentes.

No setor elétrico, as forças da natureza deram uma pequena colaboração. A melhora do cenário de chuvas favoreceu a geração de energia hidrelétrica no Sudeste. Já no Nordeste, os ventos ajudaram a produção recorde de energia eólica. Contudo, a situação continua preocupante.

“Houve um pequeno alívio, mas a situação ainda é muito ruim. O setor está estruturado de maneira que os prejuízos são socializados, então até as empresas que estão indo um pouco melhor acabam tendo que arcar com custo da falta de energia no sistema. E as empresas têm entrado na justiça contra isso e têm conseguido obter liminares. Com isso, o custo está deixando de ser socializado e está sobrando uma conta que não tem quem pague”, disse Charles Putz, gestor do fundo de Rio Bravo Energia.

Simone Borsato, CFO da Elektro, ressaltou que a queda do consumo de energia, no Sudeste, tem sido puxada pelo canal da indústria, enfraquecida com a situação econômica.  Algumas empresas do setor também foram afetadas com a alteração de perspectiva de estável para negativa, realizada pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s no final de julho. “Para um setor que está precisando ir a mercado para captar recursos, essa notícia não é das melhores”, completou.

A indústria de aço, por sua vez, tem sofrido com a queda nas vendas para o mercado interno – o acumulado do ano já está em 13%.  Já as vendas do minério de ferro têm sofrido com a volatilidade e o baixo preço da commoditie. Rosana de Pádua, diretora financeira da Companhia Siderúrgica Nacional, analisou que dificilmente haverá recuperação setorial já em 2016. “A queda foi muito forte e rápida, a recuperação será lenta”.

Luis Cerresi, vice-presidente de Finanças do Walmart Brasil, comentou que os varejistas enfrentam a pressão para elevar preços em um ambiente econômico cada vez mais difícil: instabilidade da massa salarial, aumento do desemprego, menor propensão ao consumo, inadimplência crescente e crédito mais enxuto.  Nos estados, já se registra aumento na cobrança de impostos e as empresas têm tido pouca abertura para negociação. “Para o setor isso é preocupante porque além da conjuntura difícil, não se vê boa sinalização do ponto de vista de ajuda para tornar o setor mais produtivo, e sim mais restrições do ponto de vista tributário e para negociação com os governos locais”.

Daniel Levy, vice-presidente de Finanças e Gestão da TAM , comentou o momento do setor aéreo. De forma geral, observa-se há uma deterioração na qualidade da receita da indústria, em função da queda no segmento de viagens corporativas. Também está ocorrendo uma mudança de mix. Para tentar manter altos os níveis de ocupação das aeronaves, as empresas recorrem a ações promocionais. Levy destaca que a época pede um freio de arrumação para todos já que, pela primeira vez em décadas, a indústria aérea teve que reduzir sua capacidade.

Soma de tensões

Eduardo de Toledo, da MSP Participações, observou que o País vive um momento de crises simultâneas. No cenário econômico, os excessos fiscais cometidos, a escalada inflacionária, o atraso nas tarifas públicas e a redução dos preços das commodities em nível global têm impactos importantes para o Brasil. Somando-se a isso, a deterioração no cenário político e os desdobramentos da Operação Lava Jato, realizada pela Polícia Federal. “É um evento tipo black swan, é difícil se planejar sem saber o que vai acontecer. Mesmo setores que estavam menos suscetíveis, como o agronegócio, o qual vivo, estão sofrendo um pouco mais. É um momento difícil para fazer planejamento. Obviamente que é preciso ter cautela, procurar estar mais líquido e se proteger nesse momento de elevada soma de tensões”.

José Cláudio Securato, presidente do IBEF SP e da Saint Paul Escola de Negócios, chamou atenção para a rápida deterioração do cenário econômico no primeiro semestre. Mantido tal ritmo em 2015 e suas consequências para 2016, há risco de o país ter dois anos seguidos de PIB com resultados consistentemente negativos – fato que não ocorria desde o biênio 1930 e 1931, quando o país sofreu os impactos da crise de 1929.

“É uma queda muito significativa para o País que desde a estabilização do Plano Real mostrou-se muito mais resiliente para segurar fortes muito mais fortes. Lógico que não se sustenta a queda por muito mais tempo. 2016 pode estar perdido, agora temos que começar a pensar para 2017”.

Oportunidades

O cenário mostra-se mais animador em alguns setores. Luis Andre Blanco, CFO da Odontoprev, afirmou que a empresa focada em assistência odontológica tem identificado oportunidades de crescimento nos segmentos de assistência individual e seguros, o que tem ajudado a contrabalaçar as perdas de beneficiários no mercado corporativo. Com isso, a empresa obteve um crescimento de receita de 7% no último semestre, comparado ao mesmo período do ano passado. A companhia também tem investido em negócios ligados a tecnologia. Um deles é uma startup focada em marcação de consultas médicas online, que hoje já agenda quatro mil consultas por semana. 25% das consultas marcadas são odontológicas.

Dentro do universo da tecnologia ligada à saúde, Sergio Volk, consultor da Magno Consultores Empresariais, comentou que a telemedicina é um dos segmentos que colhe os benefícios da redução de custos proporcionada pelo trabalho à distância. Waldir Correa, CFO da Sollis, destacou que a plataforma eletrônica de pedidos médicos oferecida pela empresa tem crescido de forma significativa.

Passando para o setor varejista, Vitor José Fabiano, CFO do Grupo SBF (Centauro), destacou a importância da boa gestão. Ele comentou que o Grupo e outras empresas varejista, principalmente de moda, tiveram um bom desempenho de vendas no primeiro semestre, contrastando com a maioria que acumulou resultados negativos. “Claro que há setores em que não tem o que fazer (dado o cenário econômico), a mão do gestor não tem um alcance grande. Mas há muitos setores em que algumas empresas estão indo bem porque empregaram os fundamentos de uma gestão de verdade, com disciplina e boa visão estratégica. Basicamente (o diferencial) é a gestão mesmo”.

Quem optou pela estratégia de acumular um grande volume de dinheiro no caixa pode aproveitar o momento para fazer aquisições. Thomas Brull, membro do Conselho de Administração da Aegea Saneamento, contou que a companhia seguiu esse caminho nos últimos anos e a decisão mostrou-se acertada. Além de ter recursos para cobrir seus custos até 2016, a empresa vê oportunidades de crescimento via compra de ativos de outras companhias. ”Uma coisa importante em época de crise é que esses sempre foram bons momentos para investimentos. E quando as coisas melhoram, você está melhor preparado que o seu concorrente”.

Luis Roberto Calado, diretor da BRAiN Brasil, observou como ponto positivo que o Governo tem se mostrado mais atento e aberto a buscar investimentos no exterior. Um dos exemplos citados por ele foi o evento realizado nos Estados Unidos, no final de junho, o qual teve a oportunidade de organizar, que contou com a participação da presidente Dilma Rousseff e ministros. No evento e no decorrer da visita aos Estados Unidos, os representantes do Governo Federal tiveram a oportunidade de dialogar diretamente com investidores e empresários americanos. Ele destacou que a Operação Lava Jato também teve aspectos positivos na visão desses empresários, no tocante ao combate à corrupção. Como resultado, quatro grandes construtoras dos EUA já afirmaram ter a intenção de participar das próximas licitações realizadas em solo brasileiro. Dados os bons frutos dessa viagem, Calado informou que o Governo Federal já prepara uma agenda de visitas à Europa e à Ásia neste ano e ao Oriente Médio no próximo.

Ao final das análises, Walter Machado de Barros, sócio da WMB Consultoria, recomendou que o IBEF SP realizasse um evento com CFOs no sentido de discutir as melhores práticas adotadas para enfrentar o cenário difícil e a visão estratégica que estão aplicando para fazer a travessia até 2017 – ano em que é esperada a retomada do crescimento.

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