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“Os indicadores tradicionais de riqueza já não funcionarão mais sozinhos”

A frase é de Ricardo Vitale, diretor-presidente da Tangger, consultoria estratégica voltada ao mercado corporativo, em campos como valuation, PPAs, viabilidade econômica financeira, apoio a M&A, entre outros. Ele foi o convidado da reunião da Comissão Técnica de Controladoria e Contabilidade do IBEF-SP, realizada no dia 12 de dezembro, na qual se discutiu o papel dos indicadores financeiros de margem operacional, como o Ebitda (ou Lajida – Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização).

O executivo destacou que o mercado financeiro utiliza muitos indicadores para mensurar a rentabilidade de um negócio. Contudo, à medida que se conhece empresas que saem do mercado tradicional, crescem ou são substituídas por companhias exponenciais, elas seguem o comportamento do consumidor e passam a se questionar se esses indicadores são bons ou não. De acordo com Vitale, esse é um item bastante determinante e essencial para calcular os resultados operacionais de uma companhia. “Da mesma forma que é importante fazer um valuation para identificar a perpetuidade do produto e saber se teria uma vida útil longa”, explicou.

“É possível estimar quanto tempo esta operação ainda será rentável? Será que esse produto ainda vai existir daqui a 30 anos? Hoje é ainda mais difícil fazer essa projeção. Então como calculamos a perpetuidade? Será que o Ebitda é o indicador mais adequado? A partir destas questões, na Tangger nós fazemos ajustes ou indicadores paralelos para comparar comportamentos e tendências do negócio”, explicou Vitale.

O debate já ecoa a nova realidade vivenciada por indústrias de tecnologia e outros setores que operam com uma visão mais avançada em relação ao indicador de resultados financeiros. Propositor desse debate no âmbito da Comissão, Alexandre Staffa, CFO da Suhai Seguradora, ressaltou a complexidade do tema no contexto das mudanças que impactarão o cálculo do Ebitda, advindas da implantação do IFRS 16 em 2019 (entenda o que muda neste artigo).

“Com o IFRS 16, todas as companhias terão um incremento de Ebitda. Para alguns negócios, este deixará de ser um resultado operacional, justamente porque migrou para depreciação, amortização. Não se trata mais de um dinheiro que você coloca à frente e se beneficia depois. Com o novo critério, acredito que esse conceito será diferente. A amortização praticamente vai passar a ser o caixa”, alertou o CFO.

Para negócios diferentes, análises diferentes – Conceitualmente, o Ebitda é um termo que apresenta a capacidade da empresa em gerar riquezas. A partir disso, Vitale explica que esse índice não retrata unicamente a geração de riqueza, mas que é necessário entender e também avaliar qual indicador financeiro reflete o melhor resultado para cada negócio. “Ainda existe uma grande dificuldade nas empresas, que é o hábito de fazer as análises nos mesmos formatos. Mas é possível, por exemplo, comparar a evolução do Ebitda com o desenvolvimento do custo de capital próprio. Isso porque a atividade operacional precisa devolver a riqueza do risco, apresentando a remuneração mínima que o sócio tem que receber – que é o ganho marginal.”

Em outros termos, Paula Raya, líder da CT de Controladoria e Contabilidade, também indagou ao convidado como deve-se aplicar um novo conceito para fazer essa análise, e como lidar com as variáveis que perdem a comparabilidade. Para Vitale, no caso dos mercados de tecnologia, a depreciação gera uma outra visão de resultados, cálculos e retorno de ativos. “Lembrando que uma parcela do investimento é manutenção, outra inovação. Ou aumenta a capacidade de produção ou produz bens que ainda não existiam, como nova linha de produto, ou descarte”, afirmou Vitale.

Segundo ele, uma situação diferente acontece com empresas que possuem custo de capital ativo intangível relevante, como é o caso de grandes marcas. “Nesse cenário, o item competição é analisado pela órbita gerencial. Comum nas indústrias de consumo, quando é avaliada a capacidade de renovação e o poder de enxergar um resultado que ainda não chegou.”

O consultor explica que o grande desafio dos negócios de tecnologia não é ganhar cliente, mas medir o tempo que o consumidor vai permanecer com tal produto. “Então a empresa já tem um certo investimento, com uma linha de despesa calculada. O que significa que o olhar para o Ebitda sozinho não diz muita coisa em uma reunião de conselho, por exemplo. Porque surgem outros tipos de questionamentos que envolvem a cultura de inovação, em que isso é considerado fator de riqueza”, esclareceu.

Então é preciso olhar para o Ebitda em longo prazo e visando a vida útil da empresa, contando ainda que pode surgir algo novo que vai ultrapassar o valor da companhia, de acordo com Vitale. Ele acredita, ainda, que é necessário ter uma fórmula que represente a capacidade de inovar.

“Mais que isso, é interessante ter pelo menos um grupo de três a cinco indicadores que se confirmem ou se completem para auxiliar na avaliação de riqueza. Além disso, analisar outras diretrizes de geração de riqueza econômica, financeira e comportamento do consumidor. O fato é: temos que quebrar o que é habitual, porque os indicadores tradicionais não vão mais funcionar para todos os modelos de negócio”, declarou o consultor.

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