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Revisando as projeções para a economia brasileira

Por Flávio Calife e Vitor França, economistas da Boa Vista

 Há uma frase famosa, atribuída ao professor de administração Laurence Peter, segundo a qual um economista seria um especialista que saberá amanhã por que as coisas que previu ontem não aconteceram hoje. Ela é uma ótima epígrafe para qualquer artigo que se proponha a analisar os erros das projeções dos economistas.

De acordo com o Relatório Focus do Banco Central, no início do ano a mediana das expectativas dos economistas apontava para um crescimento do PIB na casa dos 2,5% em 2019. Hoje, a projeção do mercado é que a economia cresça menos da metade disso, sendo que muitos profissionais já falam em uma alta inferior a 1%.

Entre as razões para a frustração das expectativas, podemos apontar tanto a crença de que o otimismo logo após as eleições se converteria em mais consumo e investimentos, quanto a aposta de que o novo governo teria condições de liderar e aprovar rapidamente uma ambiciosa agenda de reformas estruturais.

Em artigo publicado aqui mesmo no IBEF-SP no final do ano passado, chamamos atenção ao fato de que, ao contrário dos períodos de transição anteriores, naquele momento os principais indicadores econômicos apresentavam tendência positiva, com recuperação da confiança de consumidores e empresas, inflação estável em torno do centro da meta, inadimplência baixa e taxas de juros nos menores patamares da história.

“Além disto, o novo governo deverá ter a vantagem de contar com quase a maioria dos parlamentares no Congresso, o que, combinado com a conjuntura favorável, dará melhores condições para se dedicar a problemas estruturais, como Previdência, produtividade, competitividade e inovação, entre outros”, escrevemos.

A vantagem, porém, não foi devidamente aproveitada pelo novo governo, que em pouco tempo viu ruir seu capital político junto à confiança de consumidores e empresas.

A capacidade da confiança de se converter em consumo e investimentos privados também parece estar sendo seguidamente superestimada pelos economistas desde 2016. A realidade tem ensinado que o otimismo dos agentes pode ser uma condição necessária, mas não suficiente para o crescimento da economia.

Em defesa dos economistas, vale lembrar que elaborar projeções econômicas é uma atividade bastante desafiadora, já que o cenário depende de muitas variáveis muito difíceis de prever.

Além disso, qualquer decisão econômica, da compra de uma casa até a aquisição de uma empresa ou a contratação de novos empregados, por exemplo, depende de um cenário para a economia, o que torna a elaboração de projeções essencial, portanto.

É preciso, contudo, compreender – e respeitar – a limitação dos modelos estatísticos e do conhecimento desses profissionais. Até porque o futuro, por definição, é incerto.

Há outra frase, esta atribuída ao economista John Kenneth Galbraith, segundo a qual haveria duas classes de economistas que preveem as coisas: aqueles que não sabem e aqueles que não sabem que não sabem.

Reconhecer essa limitação, portanto, é o primeiro passo para se arriscar no exercício de elaborar projeções. Melhor ser vago e correto do que preciso e errado, como disse John Maynard Keynes.

Pensando nisso, escrevemos naquele artigo que “o cenário do próximo ano [2019] para crédito (PF) e varejo, assim, é positivo, com grande probabilidade de observarmos crescimento ligeiramente superior ao registrado em 2018. Entretanto, dificilmente teremos uma expansão muito expressiva destes segmentos a curto prazo sem um aumento significativo da taxa de ocupação, o que ainda não está no radar da maior parte dos economistas, que apostam na redução gradual do desemprego decorrente, entre outros fatores, do elevado nível de ociosidade na economia”.

Neste momento, os indicadores do varejo apontam para um crescimento das vendas muito próximo ao observado no ano anterior (1,5% para o varejo restrito). O movimento do comércio para o dia das mães, a segunda data mais importante do ano para o setor, ficou abaixo do esperado.

Se, por um lado, podemos ter errado ao apostar em um desempenho um pouco melhor neste ano, por outro, tomamos o cuidado de condicionar o crescimento à evolução do mercado de trabalho, ainda decepcionante.

Além do alto nível de desocupação e subutilização da mão de obra, o perfil da ocupação, com crescente participação dos trabalhadores informais e por conta própria, também compromete as vendas do varejo.

O mercado de crédito, por sua vez, vem mantendo o ritmo de crescimento observado no ano passado. Esta tendência, porém, também tende a ser afetada pelo mercado de trabalho e pela lenta recuperação da atividade econômica, o que pode levar a um aumento da inadimplência que ainda não estava no radar.

Sem margem fiscal para a expansão dos investimentos públicos, diante do baixo apetite de investidores privados, de um mercado consumidor limitado pelo alto desemprego e pelo fraco crescimento da renda e de um cenário externo não muito favorável às exportações por causa do acirramento de guerras comerciais, as reformas microeconômicas continuam se apresentando como um dos principais caminhos do país para tentar destravar a economia.

No que diz respeito especificamente ao mercado de crédito e serviços financeiros, a aprovação da inclusão automática no Cadastro Positivo e os avanços já apresentados nos temas de Open Banking e Pagamentos Instantâneos são notícias positivas, mas com efeitos esperados na economia apenas em médio prazo.

As opiniões e conceitos emitidos no texto [acima] não refletem, necessariamente, o posicionamento do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) a respeito do tema, sendo seu conteúdo de responsabilidade do autor.
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