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Webinar de Tesouraria e Riscos aborda investimentos sustentáveis com especialistas

Foi realizado na terça-feira, 7 de abril, o Webinar da Comissão Técnica de Tesouraria e Riscos do IBEF-SP com o tema “Uma Visão Completa sobre Investimentos Sustentáveis: Marco para Emissores de Dívida, Investidores e Estruturadores”. Camila Abel, líder da comissão e diretora de Tesouraria e Riscos da AES Tietê, coordenou o evento, que teve cerca de 53 participantes on-line. “Me sinto lisonjeada de organizar um webinar com mestres no assunto. Temos uma discussão que envolve um novo mindset da sociedade sobre nosso papel e das organizações”, destacou.

Segundo Camila, as empresas precisam buscar solucionar problemas e gerar impacto positivo, e a partir disso, os princípios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) serão normas para todas as transações financeiras. “É só questão de tempo”, ressaltou, enfatizado que a AES já faz ações de sustentabilidade com energia renovável, sendo a primeira empresa brasileira a emitir green bonds de projeto solar.

João Santos, CFO da Elétron Energy e membro da CT de Tesouraria e Risco do IBEF-SP, foi o moderador do painel e destacou que o tema é importante e predominante na discussão de empresas mundo afora, e está cada vez mais presente em companhias locais. “Esse tema tem tomado uma relevância grande na pauta das companhias”, ressaltou.

Positive Ventures – Para iniciar o debate, Bruna Constantino, sócia da Positive Ventures, fez uma apresentação sobre a atuação de sua empresa, que investe em negócios com vistas a resolver questões sociais e ambientais. Ela iniciou o debate falando sobre o atual momento de crise que o mundo se encontra por conta da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). “Acredito que esses momentos são importantes para reavaliarmos nosso posicionamento. Investimentos sustentáveis e de impacto positivo vão ganhar força”, disse.

Bruna explicou que empresas que começaram a incorporar ESG juntamente com a tecnologia que se desenvolveu nos últimos anos são mais prósperas. Entre elas, foram citadas Google, Amazon e Facebook. “Os negócios do futuro serão aqueles que existirem para gerar impacto positivo”, destacou. Ela disse ainda que no Brasil há um desafio enorme no combate à desigualdade, e para isso é preciso ter uma mudança de mindset. “O propósito de responsabilidade corporativa deve ser maior que o próprio lucro. A Positive Ventures direciona investimentos para empreendedores que usam tecnologia e inovação para resolver desafios ambientais e sociais”, disse.

Para lidar com isso, a Positive Ventures se alinhou com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), Millenials e um mercado de impacto mensurável no Brasil. “Enxergamos pessoas que estão por trás desses negócios como catalisadores, e enquanto fundo de venture capital, buscamos inovação e escala e estamos alinhados com as mudanças do mundo”, explicou.

Investimentos – “Temos 160 milhões de brasileiros que não têm plano de saúde e 7 milhões com diabetes e que não sabem que possuem a doença. Para tentar solucionar esse problema, investimos na Labi Exames, uma rede de laboratórios que oferece exames com serviço de qualidade a preços abaixo do mercado. O objetivo é democratizar o diagnóstico”, explicou Bruna Constantino. “Temos também o problema de letramento. Acima de 89% dos brasileiros maiores de 15 anos não conseguem ler um livro adulto ou fazer interpretação de texto. No Brasil, 56% dos estudantes que ingressaram na universidade desistiram ou trocaram de curso”, explicou. Para solucionar isso, a Letrus, outra investida da Positive Ventures, é uma plataforma que usa inteligência artificial para melhorar índices de letramento de estudantes no Brasil. “Eles atuam em 110 escolas públicas e 120 privadas”, destacou.

Entre as demais investidas da Positive Ventures está a New Hope Ecotech (Eureciclo), empresa de tecnologia idealizada que emite Certificados de Compensação Ambiental a partir do rastreamento de embalagens pós-consumo e formalização da cadeia de reciclagem no Brasil; a OccamzRazor, empresa de NeuroScience que usa inteligência artificial para acelerar pesquisas científicas e novos tratamentos para o mal de Parkinson; e a Good Money, banco digital alinhado com os valores da nova geração em que o cliente possui ações de acordo com o seu engajamento, e que além de não investir em empresas que contribuam para crise climática, investem 50% dos lucros em impacto social e ambiental.

Bruna explicou ainda como funciona o processo de deal flow da Positive Ventures, que sempre passa pela análise sobre o impacto das teses. “Há uma primeira análise contemplando a tese de impacto, definição de métricas, ODSs e scoring interno. Usamos as cinco dimensões de impacto do Impact Managment Project (IMP): qual a solução, quem se beneficia com os resultados, o quanto de resultado acontece, qual a contribuição da empresa para o resultado, e qual o risco para as pessoas e o planeta se o impacto não acontecer”.

Há ainda um term sheet de impacto, alinhado com as premissas do Sistema B, que trata de um alinhamento de valores do empreendedor e do investidor com perguntas direcionadas a temas como core business, diversidade, equidade e inclusão, sustentabilidade e comunidade. “A intenção é que esse term sheet seja feito de forma colaborativa para que valores se mantenham ao longo dos investimentos”. Diante do cenário de coronavírus, Bruna destacou que existe uma instabilidade, e as empresas do portfólio da Positive Ventures funcionam digitalmente, usando tecnologia e inovação para mudanças rápidas, e possuem uma vantagem competitiva, pois tem no core business a intenção de resolver problemas relevantes para a sociedade.

Instituição Financeira – Samuel Canineu, country manager do Banco ING do Brasil, fez sua apresentação em seguida mostrando que o Brasil tem bastante interesse em fazer mais pela sustentabilidade, mas ainda é um mercado menos desenvolvido, que deve acelerar. “O ING tem algumas convicções globais que faz parte de sua cultura. A gente vê o tema sustentabilidade como algo fundamental que vai modelar o futuro da nossa sociedade, e isso é intrínseco às decisões que tomamos. Não acreditamos que simplesmente não causar danos ao meio ambiente é suficiente, temos que ajudar a melhorar”, ressaltou. Segundo ele, grande parte das falências podem ser explicadas por más práticas de ESG.

Outra convicção do banco é que o maior impacto é gerado através dos produtos oferecidos aos clientes. “Nosso maior produto global é o crédito. Influenciar nossos clientes através deste produto é a maneira que vamos gerar maior impacto. Nos comprometemos a alinhar 100% do nosso portfólio de crédito ao Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global”, explicou Canineu. “Temos a nossa própria análise de risco do crédito, tanto de forma corporativa, através das nossas políticas, quanto com due diligence rigoroso e transação”, complementou.

Canineu ressaltou que há algum tempo o ING tenta reduzir para zero o fornecimento de energia através de carvão, e deixa de financiar o setor de óleo de canola, tabaco, etc. “Essa é a parte excludente, mas também tentamos engajar nossos clientes e incentivá-los a migrar para geração de energia e processos mais sustentáveis. Assim, temos a criação de produtos para incentivar práticas mais sustentáveis, que acreditamos que é onde faz diferença”. Hoje, os produtos mais conhecidos no Brasil são os green bonds, mas Canineu contou que há outros surgindo e crescendo. “Um deles é o sustainability linked loan. O ING criou, em 2017, o sustainability improvement loan“. Segundo Canineu, green bonds são obviamente muito importantes, mas o ING quis criar uma modalidade na qual o dinheiro não fosse carimbado, mas sim incentivasse empresas a se tornarem mais sustentáveis. “Por isso temos esse empréstimo. É uma maneira de alinhar a estratégia financeira com sustentabilidade”.

Soluções Financeiras – Do lado das soluções financeiras, Gustavo Pimentel, diretor da SITAWI, iniciou uma apresentação sobre dados que existem no mercado sobre o impacto da adoção de princípios ESG nas empresas. “Ainda não existe uma métrica de impacto positivo comum para avaliar como estão as empresas brasileiras em relação a outros mercados, mas se considerarmos os índices sustentáveis de bolsas, as empresas no Brasil são um pouco mais avançadas que as americanas, mas estamos bem atrás da Europa. Com a COVID-19, o desempenho de portfólios que levam em conta ESG são bem superiores que os que não levam”, destacou Pimentel.

Em relação aos inflows, o dinheiro que está entrando em novos investimentos com princípios ESG continuam com impacto maior. “A missão da SITAWI é mobilizar capital para impacto positivo. Atuamos em green bonds desde 2014, que nasceu forte no setor de energia renovável, e acreditamos que setor de açúcar e álcool, bioenergia, tem como crescer ainda. Também vemos o interesse de empresas de outros setores que não seriam vistos como tipicamente verdes. A lógica no Brasil é diversificar setores, e trabalhamos com bancos para ajudá-los a identificar o portfólio verde que eles possuem e como fazer uma captação”, destacou.

Pimentel disse ainda que esse mercado surge na área de crédito, mas pode ser aplicado em outros produtos. “Um grande framework que utilizamos é o Green Bond Principles, que orienta o processo de emissão de green bonds“. Por outro lado, algumas empresas ou emissores que já buscaram fazer emissões verdes acabaram recebendo críticas, pois tinham ganhos marginais de eficiência. “Há diversos desafios de reputação. É preciso fazer bem feito”. Pimentel falou sobre os títulos de transição, que mostram que a empresa está dando passos para diminuir os danos ao meio ambiente, por exemplo.

Entre outros produtos que existem nesse mercado são os empréstimos ESG pós-fixados. “É um mercado que vem com grande possibilidade de crescimento, mas no Brasil ainda está devagar. Recomendamos para os tomadores ou emissores potenciais que se preparem para isso, criando um documento interno da companhia onde ela faz um desenho do que seria essa operação. Isso deixa a empresa preparada para fazer uma emissão rotulada muito rápido”, destacou Pimentel. “Queremos trazer esse rótulo de sustentabilidade para todos os produtos possíveis”, complementou.

 

 

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