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CFO da Mercedes-Benz traz experiência estrangeira aos associados do IBEF Jovem

Paciência e ganho de experiência são os pontos-chave para quem quer assumir uma posição de liderança na área financeira. Essa foi a dica de Kathrin Pfeffer durante o encontro de mentoring realizado pelo IBEF Jovem nesta quinta-feira (18). Somando 14 anos de carreira no Brasil, a executiva alemã assumiu, em outubro do ano passado, o cargo de CFO da Mercedes-Benz, empresa do grupo alemão Daimler. No Brasil, a Mercedes-Benz conta com 10,5 mil funcionários e Kathrin lidera, na área financeira, um time de aproximadamente 330 pessoas, incluindo funcionários na Argentina, Colômbia e Venezuela.

Durante o Mentoring, Kathrin contou que sua trajetória na empresa iniciou em 1989 como analista na área da TI e, dez anos depois, a executiva embarcou em direção às terras brasileiras no cargo de gerente da área financeira. Ela se apaixonou pelo país e permaneceu por quatro anos antes de ser transferida para os Estados Unidos, já como gerente sênior. Quatro anos depois, Kathrin retornou à Alemanha e confessa: a adaptação ao país sede da empresa não foi fácil. “Depois de oito anos fora, é bem difícil voltar, pois você assume muita responsabilidade fora da matriz, e quando volta, as coisas não andam do jeito esperado. Na primeira oportunidade, em 2009, voltei para o Brasil”, disse.

Superação de barreiras – A trajetória de Kathrin é inspiradora pela determinação de superar todas as dificuldades e aceitar desafios de coração aberto e totalmente motivada. Primeiro ela enfrentou a barreira do gênero, já que o grupo Daimler possuía, 30 anos atrás, uma cultura conservadora e majoritariamente masculina.

Quando chegou ao Brasil, a executiva alemã precisou superar a barreira do idioma, principalmente porque o número de pessoas que falavam inglês na época era ainda muito reduzido. “No início, foi difícil estar longe da família e não falar o idioma local. No trabalho, quase ninguém falava inglês, então eu não entendia tudo, mas foi muito fácil me adaptar ao país”, contou Kathrin, que sentiu o baque quando precisou mudar para os Estados Unidos. “Talvez esse tenha sido meu maior desafio. A cultura americana é diferente, e eu não tive esse problema aqui, pois os brasileiros são muito abertos e fazem com que todos se sintam em casa”.

Mesmo com essas mudanças, Kathrin destacou que esse tipo de desafio é importante na carreira profissional para promover o crescimento e ganhar experiências. “Consigo me adaptar bem às situações, mas foi diferente. Tudo ajuda a crescer. Tentem buscar esses desafios”, aconselhou.

Proveniente de um vilarejo alemão, a adaptação da executiva à megalópole de São Paulo foi o menor dos problemas para Kathrin, que aprecia a vida e o dia a dia na capital. “Até então, a maior cidade que conhecia antes de vir para São Paulo possuía 200 mil habitantes. Essas diferenças me atraíram: eu amo São Paulo, eu faço tudo aqui, ando de bike, ando a pé, metrô, eu realmente gosto dessa cidade”.

Desafios culturais – Para Kathrin Pfeffer, o maior desafio cultural enfrentado ainda é o de tomada de decisão, que no Brasil ocorre de maneira diferente da Alemanha, onde tudo é feito com muito planejamento. “Até hoje enfrento a dificuldade de sair do processo que eu conhecia na matriz para tomar decisões, pois aqui esse planejamento não funciona”, disse. “Na cabeça de um alemão, tudo é planejado, e tudo vira desconfiança. Eu tentei criar essa confiança apesar das diferenças”.

Outra dificuldade para Kathrin foi explicar o cenário político e econômico brasileiro. “Uma empresa como o grupo Daimler confia no mercado, pois investe muito no Brasil. Mas quando passamos por uma crise e o número de vendas cai drasticamente, a matriz começa a avaliar se vale a pena investir nessa economia, estruturar a empresa e colocar um novo portfólio de produtos”, contou. Ela disse que as decisões não foram fáceis durante a crise econômica do país, mas que sua equipe conseguiu deixar claro que o Brasil voltará a crescer. “Vamos conseguir, dentro desse novo mercado, atuar como antigamente”, comentou confiante.

Crescimento como CFO – Há 30 anos na área financeira, Kathrin passou por alguns níveis hierárquicos na Mercedes-Benz desde que chegou ao Brasil: foi promovida do cargo de gerente para gerente sênior depois de três meses e, em 2014, tornou-se diretora. No ano passado, a executiva chegou ao posto de CFO.

“Passei por muitas experiências e desafios na área de liderança. Aqui no Brasil, fui responsável pelos resultados, nos Estados Unidos também, e na Alemanha, em 2006, assumi um time novo e implementamos o controle de material, o que foi diferente da área financeira”.

A executiva voltou com essa função para o Brasil e, no início de 2011, foi escolhida para implementar o sistema SAP para finanças localmente, trabalho que realizou por três anos. Nesse momento, Kathrin contou que precisou assumir vários riscos. “Tínhamos que implementar um sistema sem deixar a produção parar. Além disso, tinha um esforço de convencimento de toda a equipe de que era preciso implementar a nova ferramenta, e não foi fácil engajar as pessoas que usavam o mesmo sistema há 30 anos. Eu trabalhei na implementação 24 horas, por meses, e após vários obstáculos, conseguimos”.

Dessa experiência, ela ressalta a importância de preparar a equipe para mudanças. “É diferente estar aberto a um novo processo quando se trabalha com pessoas jovens. Mas falar para alguém que vai se aposentar em dois anos que precisa mudar seu dia a dia, é algo que eu subestimei que daria certo. Por isso, quando há uma mudança a ser implementada nas organizações, aconselho que se faça o change management antecipadamente”.

Habilidades importantes – Kathrin passou a ter visibilidade dentro do grupo, o que a ajudou a ganhar confiança no nível técnico, além de acumular experiência com times de diferentes países e integrá-los de forma produtiva. “O grupo Daimler decidiu que eu sou a pessoa certa para assumir o cargo de CFO no Brasil por terem visto esses esforços. Visibilidade é muito importante junto ao conhecimento técnico”, diz a executiva.

Ela destacou que a motivação dos brasileiros e a abertura para mudanças cria um potencial bom e abre caminhos. Mesmo em uma posição de alta gestão, ela procura trabalhar muito de perto com sua equipe. “Trato a função que tenho hoje com respeito, pois somos uma empresa grande no Brasil e sou responsável por fazer com que ela sobreviva. É meu estilo ter contato com todo mundo, tento criar essa aproximação sem barreiras, pois tudo o que o time faz eu preciso, no fim, assumir e confiar para tomar a decisão certa”.

Para os aspirantes ao cargo, Kathrin Pfeffer deu a dica: tenha paciência. “Um lado é conhecimento, motivação… Mas experiência também é importante, e não se ganha isso em dois anos, para nenhuma função. Aproveite esse tempo para ganho de experiência”, ressaltou.

IBEF Jovem – O IBEF Jovem promove encontros de Mentoring, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento da carreira, por meio do diálogo e do aconselhamento com líderes experientes. O núcleo é patrocinado pela plataforma Antecipa, que determina, por meio de algoritmos e análise de dados, a taxa de desconto da antecipação de recebíveis para cada transação, usando um mecanismo de leilão por meio de uma avaliação da oferta e demanda. Acesse: www.antecipa.com

(Reportagem: Bruna Chieco)

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