Av. Pres Juscelino Kubitschek 1726, Cj. 151 São Paulo / Itaim bibi +55 11 3016-2121

Conselho Consultivo: uma oportunidade de atuação para o profissional de Finanças

Por Marcos Batista, gerente sênior de Management Consulting na PwC e membro da Comissão de Controladoria e Contabilidade do IBEF-SP*

Você, profissional da área de Finanças que atua ou com orçamento, ou com custos, ou com valuation etc, já pensou em se tornar um conselheiro consultivo? Talvez você nem saiba que possa contribuir com seu conhecimento financeiro para a gestão de várias pequenas e médias empresas ao atuar como conselheiro consultivo. Antes de explicar os porquês do profissional de finanças se tornar um conselheiro, vale a pena explicar um pouco dessa função.

O Conselho Consultivo, segundo a definição de um estudo canadense (1) , é um grupo de pessoas independentes que auxiliam regularmente o time de gestão de uma empresa a tratar problemas específicos. Ao contrário de um conselho de diretores, os membros de um Conselho Consultivo não têm autoridade para deliberar questões de negócios e nem têm qualquer responsabilidade legal com relação à empresa. A empresa não tem qualquer obrigação de implementar as recomendações do Conselho Consultivo.

Como regra, o Conselho Consultivo não delibera, mas sim aconselha e propõe diretrizes que podem ou não ser aceitas pelos sócios e administradores, esclarece o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Uma empresa de capital fechado não é obrigada por lei a constituir um Conselho. No entanto, tal grupo pode pavimentar caminhos para melhoria nos resultados, facilitar acesso a recursos e contribuir para a longevidade e sustentabilidade do negócio.

Uma vez explicadas as funções do Conselho Consultivo, tratemos agora de relatar o cenário das pequenas e médias empresas brasileiras (PME) que precisam de apoio. Segundo dados da Serasa Experian, a inadimplência das micro e pequenas empresas em junho de 2018 chegou ao patamar de 5.174.137 CNPJs. Desse montante, 33% estão concentrados no estado de São Paulo. De acordo com a divulgadora desse índice econômico, são empresas com pelo menos um compromisso vencido e não pago e que, por isso, tiveram o seu CNPJ incluído nessa base de dados. O indicador congrega as informações das empresas que faturam até R$ 4,8 milhões/ano.

Mais de um quarto do Produto Interno Bruto brasileiro é gerado pelos pequenos negócios, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Ainda segundo o mesmo instituto, dentre os fatores que contribuem para a sobrevivência das empresas brasileiras estão: planejamento do negócio, gestão do negócio e capacitação dos donos em gestão empresarial. Além disso, tendo como fonte de dados o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o Sebrae indica que os pequenos negócios foram responsáveis pela criação de 351.629 empregos no primeiro semestre de 2018, enquanto que as médias e grandes empresas geraram apenas 27.254 ocupações no mesmo período.

Diante do exposto, sugere-se que, por um lado, já que temos milhões de empresas brasileiras inadimplentes e, por outro lado, fatores como planejamento do negócio e gestão do negócio que contribuem para a sobrevivência das empresas, temos um cenário que traz à tona o papel do Conselho Consultivo. Esse colegiado pode apoiar tais empresas a se tornarem adimplentes, a se perpetuarem e, por conseguinte, contribuírem para melhorar o quadro social brasileiro com a geração de empregos.

Você, como profissional de finanças, pode apoiar tais empresas com conceitos de gestão do fluxo de caixa, orçamento, capital de giro, ciclo operacional, ciclo financeiro, entre outros. É um bom caminho, mas não se limita à apenas isso. Trata-se de auxiliar o time de gestão para a longevidade e sustentabilidade do negócio. Se queremos um país melhor, podemos ajudar as pequenas e médias empresas.

O Conselho é parte fundamental da estrutura de governança. Mesmo não sendo uma exigência legal para empresas fechadas, o Conselho Consultivo pode ser o primeiro passo dado por elas para fomentar a adoção das melhores práticas de Governança Corporativa.

Partindo para um estágio mais avançado de governança corporativa, o profissional de finanças pode, por meio do estabelecimento do conselho consultivo, trilhar um caminho de abertura de capital (conhecido termo em inglês IPO Initial Public Offering) de uma PME.

Um case de sucesso que retrata a entrada e a evolução de uma média empresa no mercado de ações brasileiro é a Senior Solutions – empreendimento que desenvolve softwares para instituições financeiras. O processo foi iniciado em 2012, com a entrada no Bovespa Mais que foi criado pela B3 – antiga BM&FBovespa – com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do mercado de ações brasileiro. Nesse segmento, as companhias entram de forma gradual, implementando com o tempo novos padrões de governança corporativa e transparência, mas já contando com a vitrine que o mercado de ações oferece aos investidores e aos próprios clientes. Segundo dados da própria Senior Solutions, seus clientes enxergam a governança corporativa como um grande diferencial. Hoje, a empresa participa do Novo Mercado – a categoria mais prestigiada da Bolsa. Sua receita líquida em 2017 foi de 135 milhões de reais, um crescimento de 60% sobre 2016 (2).

Além do conhecimento sobre Finanças que o profissional pode aportar num Conselho Consultivo, ele também deve se preocupar em apoiar a empresa nas questões que nem sempre estão ligadas à área especificamente, mas estão relacionadas às funções de gestão de desempenho de um Finance Business Partner (3), como por exemplo: estratégia e planos, estrutura organizacional, sistemas de recompensa, medidas-chave de desempenho, fatores-chave de sucesso etc.

Outro ponto importante que os conselheiros consultivos devem estar atentos é a revolução digital que tem transformado vários modelos de negócio, sendo exemplos dessa mudança de paradigma o Uber e o Airbnb. Segundo Henrique Luz, vice-presidente do conselho de administração do IBEF-SP e do IBGC, a inovação é um tema que deve ser discutido nos Conselhos para que possam reagir à incrível velocidade das disrupções tecnológicas (4).

Mediante o exposto, fica claro que o profissional de finanças tem conhecimento necessário para dar o primeiro passo na constituição da governança corporativa das PME, por meio da formalização de um Conselho Consultivo. Trata-se de uma ferramenta que, ao apoiar o desenvolvimento das pequenas e médias empresas, pode ter um importante efeito na geração de empregos para a recuperação da economia.

Por fim, para te inspirar a trilhar este caminho, deixo a frase de Sandra Guerra, autora do livro: “A caixa-preta da governança”, quando questionada pela revista RI (5) sobre governança corporativa e PME: “o fato de terem um Conselho é elemento gerador de valor porque a companhia tomará as melhores decisões e maiores condições de implementá-las”.

*Marcos Batista é mestre em Controladoria Empresarial pelo Mackenzie. Autor do livro: A contribuição do controller como business partner – sistematização de atividades sob a ótica do sistema de gestão do desempenho. Atua como gerente sênior na área de Management Consulting na PwC.

 

_______________________________
(1) Fonte: Business Development Bank of Canada, “Advisory Boards: An unttaped resource for business”, disponível em: https://www.bdc.ca/EN/Documents/analysis_research/bdc_study_advisory_boards.PDF
(2) Fonte: Revista Exame, “Como esta PME chegou à categoria mais prestigiada da Bolsa”, disponível em: https://exame.abril.com.br/pme/como-esta-pme-chegou-a-categoria-mais-prestigiada-da-bolsa/
(3) Fonte: Biblioteca Digital Mackenzie, “A contribuição do controller como business partner: sistematização de atividades sob a ótica do sistema de gestão do desempenho”, disponível em: http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/3189
(4) Revista Capital Aberto, ¨Inovação: vale um assento no Conselho¨, disponível em: https://capitalaberto.com.br/secoes/colunistas/inovacao-vale-um-assento-no-conselho/#.W33wAi1y_BI
(5) Revista RI, edição n. 187, outubro de 14. Disponível em: http://www.revistari.com.br/187/880

 

As opiniões e conceitos emitidos no texto [acima] não refletem, necessariamente, o posicionamento do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) a respeito do tema, sendo seu conteúdo de responsabilidade do autor.

 

Compartilhe:

Deixe um comentário