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Entre multinacionais e transições de carreira: Marcelo Giugliano destaca trajetória de 20 anos na área de Finanças

Estar pronto para oportunidades e sempre manter viva a curiosidade para aprender e expandir a sua atuação além do trabalho que desempenha. Esses pilares nortearam a carreira de sucesso de Marcelo Giugliano. Aos 53 anos, sendo 20 deles dedicados à área de Finanças, o executivo acumula passagens pela Ambev e por multinacionais como Nike, Diageo, Goodyear e, mais recentemente, na Amazon, onde foi um dos responsáveis pela expansão das operações no Brasil.

Giugliano compartilhou um pouco desta experiência, repleta de desafios e grandes projetos, em uma mentoria promovida pelo IBEF Conecta Jovem, no dia 03 de agosto. No encontro com jovens executivos de finanças, ele apontou competências que foram fundamentais para a sua construção de carreira.

“Há temas que aconselho que estejam sempre presentes nos movimentos de carreira de vocês: o aprendizado contínuo, saber escolher e evoluir nas diversas funções que se pode ter, fazer tudo da melhor forma e estar preparado para quando as oportunidades aparecerem. Eu acredito que sorte é oportunidade multiplicada por capacidade, pois se você não tiver uma das duas, as coisas não vão acontecer”, aconselhou.

Começo na área de TI e primeiros aprendizados

Marcelo começou sua carreira com apenas 15 anos, como office boy na Antarctica, gigante brasileira do setor de bebidas. Na época, cursava o ensino médio profissionalizante na área de Processamento de Dados, o que o levou a trabalhar no Centro de Processamento de Dados (CPD), nome utilizado para a área de TI na época.

Esta primeira experiência foi seguida de 13 anos na área de TI dentro da Antarctica, passando por funções de datilógrafo, programador, analista e responsável pela área de infraestrutura de TI.

Ambev, primeira transição e mudança de carreira

Durante o período em TI, Giugliano concluiu sua formação superior em Matemática com ênfase em Processamento de Dados pela Universidade São Judas Tadeu. Com a formação, ele partiu para a primeira grande transição: após 13 anos na área de TI, buscou um novo desafio na recém-criada área de planejamento estratégico da Antarctica. Para dar suporte a essa mudança, foi buscar conhecimento em uma pós-graduação em Administração Indústria na Fundação Vanzolini e um MBA na FIA/USP.

O momento foi desafiador não só pela mudança na carreira, mas pelo cenário da empresa dois anos depois, que havia iniciado uma fusão com a Brahma para a criação da Ambev. Mas a expertise adquirida foi o diferencial na elaboração de uma estratégia fundamental naquele momento de fusão.

“Eu e um colega criamos juntos um modelo matemático que usava informações como o custo de produção por fábrica, a demanda por linha de produto e por região do país, o custo de frete, os incentivos fiscais e mais uns ingredientes ali. Colocamos isso dentro desse modelo, que dava uma resposta de qual fábrica iria atender qual linha de produto para cada região do país. Isso dava algumas respostas sobre onde investir em ampliação, onde fechar, onde mover uma linha de produção e onde buscar incentivo fiscal. Esse modelo fez um baita sucesso na época e foi super útil para a tomada de decisão do parque logístico da AmBev depois da fusão, tendo sido um alavancador da minha carreira”, destacou o executivo.

Marcelo contou que, apesar da projeção e dos grandes projetos, não se adaptou à fusão das companhias. Então, decidiu buscar uma nova transição. A experiência com projetos estratégicos despertou o interesse pela carreira de consultoria. O executivo então ingressou no Monitor Group, empresa de consultoria que tem como um dos fundadores o renomado professor Michael Porter.

Início no setor de Finanças e ascensão a CFO

Após a experiência com consultoria, surgiu uma oportunidade para Giugliano trabalhar na área de finanças na Diageo, gigante do comércio de bebidas. “Mesmo sem ter experiência na área, eles queriam alguém com características que eu tinha na época. Assim, eu entrei em Finanças”.

Na Diageo, Marcelo passou pelas funções de gerente de planejamento e controller, até que foi designado para trabalhar no time de tesouraria na sede da empresa, em Londres, o que ele apontou como um dos melhores momentos de sua carreira. “Foi a realização de um sonho. Quando voltei para o Brasil, virei CFO e fiquei no cargo nos meus últimos cinco anos de empresa”, afirmou. Na função, foi responsável pelos mercados do Brasil, Paraguai e Uruguai.

Em 2011, após dez anos na companhia, Marcelo decidiu partir para um novo desafio, como CFO da Goodyear no Brasil. A mudança veio do desejo e da curiosidade de expandir a sua atuação dentro da função. “Saí da Diageo porque era uma empresa somente comercial e eu queria ter experiência em custo de produção, gestão de matéria-prima e negociações com fornecedores e sindicatos. Fui trabalhar na Goodyear porque eu queria aprender sobre o setor industrial”.

Depois de dois anos de uma experiência bem-sucedida, Marcelo partiu para o que classifica de o momento mais difícil de sua carreira, com o desafio de cuidar do orçamento da Nike às vésperas da Copa do Mundo do Brasil, em 2014.

Nike: o momento mais desafiador da carreira

Assumir o cargo de CFO em uma das maiores empresas fornecedoras de material esportivo durante a Copa do Mundo do Brasil parecia um sonho, mas acabou se tornando um dos momentos mais delicados da carreira de Marcelo Giugliano.

“Entrei na empresa em 2013, um ano antes da Copa do Mundo do Brasil, e todo o ciclo da Copa já tinha sido definido, encomendas, investimento em Marketing, novas linhas de produto e tudo mais. O preço de venda já estava travado, mas o custo não, pois os produtos eram importados e o dólar estava subindo. A demanda começou a cair, os clientes começaram a devolver produtos e a área de operações sofria pressão no custo, pois precisava entregar. Neste contexto veio o 7×1 e havia uma quantidade enorme de peças de Copa do Mundo no estoque da empresa e dos clientes. Foi a tempestade perfeita”, contou o CFO.

O executivo revelou que, para piorar, o ano fiscal se iniciou em 1º de junho de 2014, antes da Copa, e tinha o orçamento com crescimento em receita e EBIT versus um 2013 que tinha as vendas da Copa do Mundo em sua base, porém o resultado foi completamente o oposto. “Nessa época, eu tinha crises de pânico e não encontrava suporte em outras pessoas, nem do Brasil nem na matriz. Não via como achar solução e me sentia pressionado para isso. Eu perdi meu emprego, junto com outros diretores”.

Amazon: retomada e auge

Após um ano de sua saída da Nike, Marcelo voltou ao cargo de CFO para fazer parte do processo de expansão do e-commerce da Amazon no Brasil. Ele foi um dos responsáveis pela construção e ampliação da estrutura da gigante de tecnologia no país. “A Amazon é completamente diferente de todas as empresas que trabalhei, em todos os sentidos. Eu nunca tinha pegado um business desde o começo. Quando eu cheguei era um negócio que só vendia livros, e-books e Kindles. Não faturava US$ 100 milhões por ano”, contou.

Nesse período, além de criar a estrutura do time financeiro da companhia no Brasil, Giugliano participou de grandes marcos, como a expansão do negócio de varejo (1P) em 28 novas categorias, o que incluiu o desenho de toda inteligência tributária do Brasil nos sistemas da empresa, o lançamento do marketplace (3P), a construção de centros de distribuição e os lançamentos da Alexa, do Prime Video e do Amazon Prime no mercado brasileiro. Após quase cinco anos, Marcelo percebeu que era o momento de mais uma vez se reinventar e buscar novos conhecimentos, e então deixou a posição de CFO do e-commerce para assumir a função de diretor de varejo, cargo no qual permaneceu em seus dois últimos anos na companhia, até maio de 2023.

Do período na Amazon, o executivo aponta dois detalhes que o impressionaram. O primeiro é o processo de tomada de decisão e como os projetos são apresentados. “A pessoa responsável pelo projeto escreve um documento de seis páginas. A cada reunião, você entra, pega seu documento e começa a ler. A primeira hora você só lê e a segunda você debate. É preciso apresentar argumentos do porquê fazer e do porquê não fazer, ganhando credibilidade e mostrando que o projeto foi avaliado em profundidade. Decisões como o lançamento da Alexa no Brasil foram tomadas em uma reunião de duas horas”, contou.

A segunda, e talvez principal, é a visão da companhia em relação à experiência do cliente. “A Amazon é uma empresa que investe muito dinheiro para manter o cliente satisfeito e isso faz parte do crescimento do negócio. A mentalidade é: se eu penso em fazer algo simplesmente por conta das margens, mas vou prejudicar o cliente, isso não vai dar certo lá na frente. Eles acreditam que o cliente contente volta e a companhia ganha dinheiro com a recorrência. Essa mentalidade de cliente no centro eu nunca tinha visto dessa forma”, revelou.

O desafio da transição executor x líder

Na análise da sua trajetória até a posição de CFO, Marcelo ressaltou a importância de saber gerir a transição entre um executor e um líder. “Você não precisa saber tudo para ser líder. Esse lado de deixar de executar e ter pessoas executando para você, de ter pessoas que você dá as diretrizes e elas fazem, não exatamente como você faria, é muito importante. Isso é muito importante para você separar o seu tempo de forma eficiente”.

Além da gestão de tempo, o executivo ressaltou que a mudança de mentalidade é necessária para atender ao que é esperado do CFO. “Quando você é um diretor financeiro, as pessoas não esperam mais que você esteja lá para entregar balanços ou apresentar os resultados. Você está lá para ser parte de um time de liderança que vai ajudar no processo de tomada de decisão e passa a ser muito mais um conselheiro que um executor. Se destinar seu tempo para executar, não será possível fazer esta outra parte”, completou.

Networking é fundamental

Marcelo também destacou a importância de construir um bom networking para garantir que as oportunidades apareçam ao longo da carreira. Meios como uma participação ativa no LinkedIn, a presença em eventos, a troca de ideias com colegas de profissão e até o networking dentro da companhia são chaves para construir pontes e oportunidades, de acordo com ele.

“Networking é algo que você precisa criar enquanto não precisa dele. Eu tinha sempre uma disciplina de toda a semana conversar, tomar café ou ligar para alguém e até procurar colegas para tirar dúvidas. Manter esse networking ativo é fundamental, para, quando precisar, poder acessá-lo, e não ter que criá-lo”, explicou.

Comunicação e participação no negócio

Durante a mentoria, Marcelo Giugliano fez questão de reforçar a necessidade de criar uma cultura de comunicação dentro da área de Finanças. Ele apontou este pilar como fundamental para estabelecer uma cultura dentro das companhias e, também, para a valorização da carreira.

“O financeiro pode ter uma dificuldade muito grande de aprender a se comunicar. Estamos sempre na frieza do número. O que me diferenciou como CFO foi saber operar e comunicar a variação que os números podem ter. Aprendi a explicar como eles podem variar, por que podem variar e fazer as pessoas entenderem por que precisamos planejar, ter dinheiro no caixa, ter controle e fazer os dados baterem. Tem um monte de financeiro bom no que faz, mas os que se destacam são os que aprendem a se comunicar com seus stakeholders internos”, analisou.

Nesa linha, o executivo apontou a necessidade de participar cada vez mais das atividades da empresa, não só para deixar clara a importância de cada decisão orçamentária, mas para ajudar na realização de negócios. De acordo com ele, essa participação maior, em diversas frentes, faz parte da transformação da função de CFO.

O CFO está assumindo, cada vez mais, responsabilidades que não têm relação direta com finanças, completou Giugliano. “O financeiro tem que ser um ponto de apoio para a área comercial em negociação com os clientes, tem que separar tempo para conhecer clientes, fornecedores e participar mais do dia a dia do negócio. Isso é uma oportunidade de se destacar e fazer algo que ninguém está fazendo”, completou.

“Pela própria natureza matemática da coisa, o financeiro acaba sendo uma commodity e isso gera uma desvalorização. Por isso, temos que trabalhar na comunicação e nessa transformação para mostrar a importância da função e nos valorizarmos mais”, finalizou.

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