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Finalistas de Prêmio Equilibrista 2020 relatam desafios e legado de suas atuações em ano adverso

Transformação digital e pandemia foram os principais desafios que os CFOs tiveram que enfrentar em 2020. Nesse processo, os diretores financeiros das companhias se tornaram verdadeiros equilibristas para manter a estratégia da empresa condizente com o cenário atual, unindo ferramentas tecnológicas e uma equipe que ajude nesse processo transformacional. Os finalistas do 37º Prêmio Equilibrista do IBEF SP, que prestigia o CFO do ano, relataram, em apresentação aos associados realizada no dia 13 de novembro, como passaram por esse período e as transformações que promoveram em suas empresas que os levaram à indicação da premiação este ano. O Prêmio tem o patrocínio de Deloitte, Carrefour, Embratel e Totvs.

Serafim Abreu, presidente da diretoria executiva do IBEF SP, destaca que o ano foi desafiador, ímpar, de transformação, e difícil para a maioria das empresas no mercado. “Temos aqui três empresas que conseguiram aproveitar as oportunidades que apareceram nesse período”. Segundo ele, o papel do CFO como agente transformador garantiu a continuidade da estratégia das empresas, utilizando análise preditiva avançada e mantendo a excelência na gestão. “O trabalho desses três CFOs mostra isso”, disse, anunciando os três finalistas: José Antônio de Almeida Filippo, vice-presidente executivo financeiro e de relação com investidores da Natura; Tiago Azevedo, CFO do Mercado Livre no Brasil; e Diego Barreto, CFO e VP de estratégia do iFood.

Renata Muramoto, sócia da Deloitte e líder do CFO Program da Deloitte, destaca que a pandemia também pegou de surpresa a consultoria, que tinha uma agenda traçada para 2020 que foi colocada à prova durante o período. “O desafio das empresas foi manter o caixa, tomar decisões críticas para manter a operação, e tudo isso em curto espaço de tempo. Ser equilibrista foi crucial nesse momento”, disse. “Eu sei que a pandemia trouxe perdas que jamais vão ser recuperadas, mas também proporcionou muitos aprendizados, e grande parte deles foram orquestrados pelos CFOs”, complementou.

Expansão – Reinvenção e transformação fizeram parte do caminho de José Antônio de Almeida Filippo, vice-presidente executivo financeiro e de relação com investidores da Natura, em seus 3 anos de atuação na companhia. Engenheiro por formação, sua carreira toda foi construída e desenvolvida na área financeira. “Sempre tive o privilégio de poder trabalhar em setores diferentes”, disse. “Neste último ciclo que estou trabalhando atualmente, pude atuar no projeto da Natura, que reúne as marcas Natura, Avon, The Body Shop e Aesop”, explicou, contando que o grupo atua em mais de 100 países, com 40 mil funcionários e aproximadamente 7 milhões de consultores e representantes.

Com uma visão de internacionalização, a Natura iniciou suas aquisições fora do país, começando pela compra da australiana Aesop, e já em 2017, fez a aquisição da The Body Shop. “Com essa compra, a companhia realmente mudou o patamar, com foco de ser multimarca, multicanal, pois a The Body Shop trazia a oportunidade de levar o canal de varejo físico à outra dimensão”. Nessa época, Filippo foi convidado para participar do projeto da Natura.

Ele ressaltou que sua responsabilidade financeira engloba, além da Natura, a The Body Shop, a Aesop e agora a Avon. “Meu grande desafio foi o processo de aquisição da Avon pela estrutura da companhia que seria adquirida”. Filippo destacou que a negociação foi longa, com a assinatura da transação em maio de 2019, e fechamento efetivo da operação em 4 de janeiro de 2020. “Ao terminar isso, a companhia dobrou de tamanho, se tornando o quarto maior grupo do segmento de beleza do mundo”, ressaltou. 

Em 2020, no momento em que o grande trabalho de plano de sinergia e integração da Avon no grupo Natura aconteceria, veio a pandemia. Com fechamento de varejo físico e restrição das fábricas, foi preciso uma coordenação da alta liderança do grupo para que houvesse ajustes nesse momento. “Revisamos despesas, com foco em preservação de caixa”, contou Filippo. Ele ressaltou que foi feito um movimento tático para criação de valor na gestão de liquidez e de estrutura da capital da empresa, além de melhorias em ferramentas de modelagem para fazer previsões de cenários de maneira mais precisa. “Hoje, a gente vive um legado dessa fase, como essas sofisticações, que continuam conosco”.

Filippo ressaltou que nesse momento foi vista a resiliência de alguns canais de venda, com adaptação rápida para o digital. “O e-commerce chegou a crescer 500%. Nós desobstruímos gargalos em termos de entrega e atendimento no e-commerce”, disse. A transformação necessária trouxe ainda oportunidade de olhar para frente e planejar o futuro, a partir de emissão pública, cujos recursos seriam utilizados pagar a dívidas, fazer investimentos para acelerar a integração da Avon, ampliar a atuação em termos geográficos em mercados internacionais, continuando os investimentos em TI e digitalização, além dos programas de sustentabilidade. “Os desafios ainda persistem. Não temos um consenso sobre como será o crescimento dos mercados, estamos vivendo medidas restritivas na Europa, e isso faz com que a gente mantenha a mesma disciplina e foco”, complementou Filippo. 

Comércio digital – O processo de transformação também se acelerou no Mercado Livre em meio à pandemia. Tiago Azevedo, CFO do Mercado Livre no Brasil, destacou que sua chegada na empresa ocorreu a partir de um ímpeto de conhecer melhor o mercado de comércio digital. “Com sorte e timing correto, tive o prazer de poder me juntar ao Mercado Livre há 2 anos e meio, acumulando as áreas de planejamento, compras, tesouraria, controladoria, tax e office management” disse.

Tiago contou que a missão do Mercado Livre é democratizar o acesso ao comércio e ao dinheiro. “Sabemos a dificuldade, com a desbancarização que temos no Brasil. E com a pandemia, essa missão nunca se tornou tão relevante. A gente vê isso manifestado em eventos como auxílio emergencial”, disse. Segundo ele, o Mercado Livre teve mais de 7 milhões de novos usuários em poucos meses adotando a plataforma digital como um meio de consumo. “Essa pandemia trouxe um crescimento acelerado, antecipando o que tínhamos planejado para daqui 3 a 5 anos em 3 a 8 semanas”, complementa.

Ele ressaltou que hoje o Brasil está vivendo uma das maiores transformações dos meios de pagamento, cadeia da qual o Mercado Livre tem participado cada vez mais. “Na pandemia houve uma demanda por liquidez muito grande e o sistema financeiro em alguns momentos nos preocupou, e foi necessário tomar uma ação tirando dívidas locais através de linhas de crédito em uma decisão defensiva de manter o negócio girando, se necessário”. Passada essa incerteza, o foco da empresa se voltou ao longo prazo, em melhorar a experiência do usuário.

Entre as ações implantadas pelo Mercado Livre estava a estratégia de gerenciar estoque, criando infraestrutura e formas de gestão e controle, além de novos investimentos em tecnologia e software para logística, chegando a 1 milhão de entregas por dia. “Assim, demos mais acesso ao e-commerce”, disse Tiago, ressaltando que a empresa tem ainda um braço de fintech, com o aval recente do Banco Central para operar a sua própria instituição financeira, que é um projeto que durou 2 anos. “Tudo isso é muito novo, foram skills criadas este ano. Em breve a gente deve ter a opção de investimento dentro do Mercado Livre”.

Ele relatou que a área financeira conseguiu participar de decisões importantes de investimento, logística, fintech, além do trabalho de backoffice para criar estrutura necessária para permitir a evolução de novos produtos na empresa. “A transformação digital é cada vez mais algo que as equipes de finanças devem tocar, necessitando, dentro das skills financeiras, de uma equipe composta por analistas de dados para operar novas ferramentas”, complementou.

Tecnologia – A estratégia de análise de dados e inteligência artificial é o que tem permeado o trabalho da equipe financeira do iFood, liderada por Diego Barreto, CFO e VP de Estratégia da empresa, Segundo ele, o iFood é basicamente uma empresa de tecnologia, que digitaliza jornadas e cadeias de valor. “Nosso foco é comida, e entendemos isso como diferencial competitivo sob a ótica de gestão”, disse. 

Fundada há 9 anos, o iFood teve crescimentos fortes de 100% ao ano nos últimos 5 anos, e Diego contou que a empresa é uma startup sob uma ótica de mindset, acreditando no poder das ferramentas modernas de gestão. “Finanças é um desdobramento da estratégia da empresa. A consequência prática é que as grandes decisões em finanças sempre estão ligadas a como o negócio avança”. Segundo ele, a empresa tem certa complexidade, e para geri-la, os sistemas financeiros precisam ser de propriedade da empresa para que se tenha a gestão do código e poder para ajustá-lo na velocidade necessária. “Finanças para nós deriva dessas questões, logo, devemos controlar os sistemas. Nós os criamos.”. 

Ele contou ainda que a decisão de gestão da tecnologia foi transferida para a área de finanças, sendo composta por um time de desenvolvedores e cientistas de dados. “Isso tudo é feito dentro de casa, pois é preciso dessa complexidade, é preciso ter gestão. O foco é dar mais agilidade às decisões, com um time voltado a construir uma lógica digital, com nível de conexão completo entre empresas”, complementou. 

Diego ressaltou que a discussão de inteligência artificial é viva no iFood, que conta com cientistas de dados no time e pessoas focadas na modelagem de linguagem de dados. “Isso significa velocidade e flexibilidade. Não estamos presos em front-ends de sistemas adquiridos de terceiros”. Ele disse ainda que a capacidade analítica do time é muito grande, além de haver na empresa uma visão diferente quanto a processos e controle. “Entendemos que ao longo do tempo as pessoas se escondem atrás de controles e processos, logo eles se tornam desculpas para tudo. Isso deve existir para os assuntos que mexem com risco reputacional, algo que não se trabalha com frequência, com grande risco financeiro ou que não se domina”.

Segundo Diego, o iFood conta com modelos de machine learning, desenvolvidos pela equipe, que fazem o monitoramento do desempenho do time de finanças. “Quanto mais eu abro mão do controle, mais eu estimulo o gestor a contratar a pessoa certa, afinal os controles e processos não fazem o papel de babá”, complementou.

A capacidade tecnológica tem feito com que a área financeira do iFood produza de maneira rápida, avaliou Diego, ressaltando que a digitalização da área permite que as pessoas fiquem mais livres para tocar o negócio. “O efeito da digitalização faz com que a área financeira acesse as demais áreas efetivamente quando é necessário. Não fazemos uma discussão de números, e sim de estratégias e negócios”, complementou.

As votações para o Prêmio Equilibrista – CFO do Ano 2020 vão até o dia 23 de novembro. Garanta seu voto! Acesse: https://www.equilibrista.ibef.net.br/eleicao/index2020.asp 

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