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IBEF-SP debate a cultura de dados e o uso de inteligência artificial

Até 2025, teremos 180 trilhões de terabytes no mundo. Atualmente, 33% das empresas já comercializam ou geram receita a partir de dados. Cerca de US$ 45 bilhões é o que se espera movimentar com a monetização de dados até 2024. Esses dados expressivos foram apresentados durante o painel “Jornada Data Driven e o ChatGPT”, promovido pelo IBEF-SP, na última quarta-feira (24).

O evento abordou o desafio de criar uma cultura de dados dentro das empresas e os riscos e cuidados necessários para o uso de inteligências artificiais. O encontro foi patrocinado pela PwC, e ocorreu na sede da empresa, em São Paulo.

A mediação do debate foi feita por Glaucia Rosalen, CFO da Microsoft Brasil, com as painelistas convidadas Carolina Gilberti, CEO da Mubius WomenTech Ventures, Suzan Barreto, sócia de Data & Analytics da PwC Brasil, e Sílvia Piva, sócia do GHBP Advogados e fundadora da Nau d’Dês.

Monetização dos dados

Suzan Barreto destacou o protagonismo que o uso de dados vem ganhando na definição da estratégia das empresas. De acordo com uma pesquisa da PwC, apresentada pela executiva, 94% dos CEOs têm a área de dados como a de principal investimento dentro da empresa. 

Suzan destacou a busca das corporações por uma “monetização dos dados” que pode acontecer tanto de forma interna quanto externa pelas empresas. Na parte interna, esses ganhos podem advir da geração de insights, a partir da análise do passado e das projeções para o futuro, da redução dos custos de cooperação, da automação de processos manuais e da extração de mais valor das pessoas com trabalho de geração de análise. 

Em relação à monetização externa com dados, Suzan apontou a oportunidade para se criar produtos e serviços, melhorar o nível de competitividade, repensar público-alvo e posicionamento de marca, rever a comunicação e conhecer melhor o mercado. 

“Tudo isso depende da estratégia que se desenha para empresa e, consequentemente, para o dado. Só não dá para capturar um monte de dados sem desenhar uma estratégia que esteja alinhada com a do negócio; caso contrário, a empresa fará investimentos altos e não conseguirá extrair valor disso”, afirmou a sócia da PwC.

“Dataficação” e ChatGPT

Já Sílvia Piva abordou o processo conhecido como “dataficação”, para destacar que, atualmente, todas as nossas ações podem ser convertidas em dados, utilizados para os mais diversos fins. “Absolutamente tudo o que fazemos pode gerar dados rastreáveis, quantificáveis e qualificáveis”, afirmou. 

A sócia da GHBP ressaltou que este processo de geração de dados acaba sendo a principal fonte para alimentar as inteligências artificiais que estão em desenvolvimento, como o ChatGPT. “A IA chegou ao patamar atual porque temos terabytes de dados. Com o poder computacional que possuímos, essa grande munição se une a sistemas poderosos para construir ferramentas como o ChatGPT”, completou. 

Sílvia explicou que a ferramenta funciona com milhões de parâmetros que possibilitam construir as respostas solicitadas pelo usuário com base nas diversas fontes disponíveis online, como livros, artigos, páginas na internet e até informações de usuários. 

“A ferramenta tem o objetivo de criar uma estrutura conversacional, a partir de uma grande quantidade de dados e ela vai nos dar uma resposta. Não necessariamente uma resposta real ou verdadeira. Por isso, precisamos entender o que é e saber como usar essa ferramenta para extrair um grande valor, conhecendo os riscos, que ainda não estão todos mapeados”, explicou.

Riscos no uso da Inteligência Artificial

Carol Gilberti falou sobre os riscos do mau uso dessas ferramentas e o período de adaptação que a sociedade deve passar, assim como acontece com todas as grandes inovações. A CEO da Mubius destacou a importância de que essa adaptação aconteça com a criação de regras e não a simples proibição do uso, como aconteceu recentemente na Itália, que baniu o ChatGPT.

“Acho que informação, comunicação e normatização são os grandes desafios das empresas. Proibir será que é a solução? Eu discordo! Seria ir contra o que este novo mundo está trazendo. Temos que entender quais são as boas práticas e fazer o melhor uso da ferramenta, pois temos muito a nos beneficiar com ela”, analisou. 

Dificuldade das empresas para lidar com dados

Suzan Barreto observou as dificuldades das empresas para lidar com o tratamento de dados. De acordo com a executiva, a maior parte das pessoas nas equipes dedicadas a essa função atuam “massageando” os dados, ou seja, checando se estão corretos e são confiáveis, e poucas estão analisando e extraindo valor. Há, ainda, o problema da falta de mão de obra qualificada para atuar na área. 

Suzan acrescentou também desafios de segurança organizacionais, estruturais e comportamentais. As companhias contam com diversos sistemas que não conversam entre si, falta padronização de dados, há ausência de uma área específica para governança de dados e uma infraestrutura tecnológica que seja escalável, para receber e processar o volume crescente de dados. “A partir do momento em que a companhia torna-se direcionada por dados, esse processo não pode parar. Nem todas estão preparadas para isso”, completou.

O reprocessamento dos dados no ChatGPT
Sílvia destacou que o ChatGPT conta com 175 bilhões de parâmetros para responder aos usuários, misturando dados de modelos estatísticos, aprendizado de redes neurais e aprendizado da máquina, utilizando de diversas tecnologias para gerar um padrão linguístico para se comunicar com os humanos. “A estrutura de dados do ChatGPT é tão robusta que, pelo aprendizado da máquina, eles conseguiram fazer com que ele trouxesse as respostas na probabilidade de acerto adequada”, afirmou.

A sócia da GHBP também alertou para a capacidade da ferramenta captar dados do usuário para gerar novas informações, o que é um ponto de atenção para as empresas, que não devem imputar informações confidenciais. “É uma ferramenta generativa, então cada vez que eu trago dados ela reprocessa e traz novas informações. Não necessariamente ela capta nossos dados. Pelos termos de uso, se você não der autorização ele não faz isso. Mas a gente precisa entender que todos os dados captados são reprocessados”.

Estatísticas de uso do ChatGPT

O Brasil é o quinto país que mais utiliza o ChatGPT, representado 4,3% do tráfego mundial. Essa representatividade se explica pelo forte uso de produtos digitais. Do número de usuários, 89% são homens. Desse total, 49% estão na faixa etária entre 25 e 34 anos. Os dados são do site Semrush. 

Etapas para direcionar a empresa para o uso de dados

Finalizando o debate, Suzan Barreto aconselhou que empresas façam uma análise da maturidade em relação à análise de dados, destacando níveis que vão desde quem ainda não utiliza dados na organização aos que usam de forma cognitiva, norteando o negócio pelos dados. A executiva ainda destacou as etapas para criar uma cultura de dados. 

“Estratégia, escolha de dados, tecnologia, segurança de governança, criação de processos e pessoas (cultura, mindset e treinamento). “Não dá para criar uma Jornada Data Driven sem pensar em todos esses pontos”, finalizou Suzan.

Sílvia Piva falou sobre a necessidade de aprender e criar políticas internas nas empresas para o uso dessas tecnologias e buscar sempre boas práticas. “Até que a gente saiba como isso funciona totalmente, temos que evitar de colocar coisas que são importantes para nós ou para nossas empresas. Mas isso não significa que não devemos usá-la. É só lembrar que o uso ético das tecnologias cabe a todos nós e somos responsáveis pelo que vai ocorrer daqui em diante”, concluiu.

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