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Mudança de perfil

A concessão de crédito imobiliário no Brasil passou por uma forte expansão nos últimos anos, quadro que deve se repetir em 2012. Mas o grande desafio do setor é manter os níveis de crescimento elevados, em meio a um cenário de novas regras para a remuneração das cadernetas de poupança – que se mantêm como a principal fonte de financiamento – e a necessidade de se criar novos instrumentos financeiros para o fornecimento de crédito.

Afinal, o volume de financiamento ainda tem que crescer muito para ao menos se aproximar de outros países, inclusive da América Latina, como México e Chile, que apresentam relação entre crédito habitacional e Produto Interno Produto Interno (PIB) de, respectivamente, 11,2% e 18,5%. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), relativos a fevereiro último, a proporção no Brasil é de 5,1%, o que deixa o país atrás de emergentes como a Índia (6%) e China (10,9%).

Conforme as novas regras definidas pelo governo para os depósitos da poupança feitos a partir de 4 de maio, toda vez que a taxa Selic ficar igual ou menor a 8,5% ao, a rentabilidade da caderneta passará a ser de 70% da taxa básica de juros, mais a Taxa Referencial (TR). Como os bancos são obrigados a destinar 65% dos depósitos dessa modalidade de financiamento para o crédito imobiliário e as cadernetas respondem por cerca de 70% do financiamentos, uma eventual queda na captação poderia afetar o sistema. Essa perspectiva, no entanto, ainda não preocupa o mercado. Em contrapartida, como uma das intenções do governo com essa medida é criar condições para reduzir a taxa Selic, os financiamentos imobiliários podem se beneficiar desse movimento e ficarem mais acessíveis no futuro.

Na avaliação do diretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Stofer, a poupança continuará a ser um investimento atrativo e, por isso, o volume de captações não deve cair. Mesmo assim, ele ressalta que o grande desafio é criar novos instrumentos de financiamento de imóveis. “Já há algum tempo, os recursos da poupança são insuficientes para atender a toda a demanda de crédito imobiliário que existe no país”, diz Stofer, citando a necessidade de estimular outros instrumentos de financiamento como o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs).

O presidente da Abecip, Octavio de Lazari Junior, estima que volume atual recursos aplicados nas cadernetas sejam suficientes para alimentar o crédito imobiliário até 2014. Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças de São Paulo (Ibef-SP), Luiz Roberto Calado, “a poupança continua sendo um investimento seguro e não deve deixar de ser procurada pelos poupadores mais simples, que não conhecem ou têm medo dos fundos de investimento e ações”.

O vice-presidente de Governo e Habitação da Caixa Econômica Federal (CEF), José Urbano Duarte, ressalta que, como todo o estoque anterior à nova regra ainda mantém os antigos critérios de remuneração, não há impacto imediato para a poupança. Duarte destaca que, após a entrada em vigor das novas regras, o volume de captações aumentou, o que mantém um cenário positivo para as operações de crédito imobiliário. Segundo ele, há recursos da poupança disponíveis para os financiamentos até 2013 na CEF.

Os principais agentes do mercado destacam a necessidade de expansão do crédito imobiliário no país, mas ressaltam a dificuldade de manter os níveis de crescimento recentes. A Abecip estima crescimento de 30% do crédito imobiliário neste ano em relação ao passado, quando os financiamentos, somando-se os recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) – de R$ 79,9 bilhões – e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) – de R$ 32,2 bilhões – atingiram R$ 112,1 bilhões.

Essa projeção é inferior à alta de 42% registrada em 2011. Segundo o vice-presidente da Abecip, essa desaceleração não significa um resultado negativo para o setor, já que os níveis registrados nos anos anteriores ocorreram em patamares elevados e não há como o mercado sustentar essa altas.

Os dados da Abecip mostram que nos primeiros três meses do ano os resultados do setor ainda estão longe da projeção para 2012. Os financiamentos, somando o SBPE (R$ 17,6 bilhões) e FGTS (R$ 8,5 bilhões) atingiram R$ 26,1 bilhões no trimestre, alta de 10% sobre o mesmo período do ano anterior. Em unidades financiadas, a alta foi somente de 1%, 234 mil unidades nos três primeiros meses do ano, contra 231 mil em 2011. Mas se forem consideradas somente as unidades financiadas com fundos da poupança, houve uma queda de 1% no período – 104,8 mil unidades, contra 105,8 mil no mesmo intervalo do ano anterior.

Segundo Roncolato, a Abecip não revisou os números para o ano, ainda que as projeções iniciais do PIB – que influenciam diretamente o setor – de 3,2% possam não ser confirmadas ao longo do ano. “Historicamente os resultados do setor imobiliário costumam ser melhores no segundo semestre do ano”, diz.

Duarte ressalta que o volume de crédito imobiliário tem mostrado forte evolução desde 2004, quando a relação era de apenas 1,3%, e deve continuar crescendo nos próximos anos. “A expectativa é de que até 2014 a proporção entre crédito imobiliário e PIB chegue a 11%”, diz.

Fonte: Valor Econômico

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