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“O financeiro precisa ser parceiro do negócio”, afirma Stânia Moraes, CFO da Ciena

Aceitar desafios, criar sinergias, conhecer o negócio e buscar equilíbrio. Esses são alguns dos elementos que fizeram de Stânia Moraes, CFO da Ciena, uma referência na função. Formada em Ciências Contábeis pela PUC Minas, a executiva possui MBA pela FGV, em Controladoria e Finanças, e pela FIA, em Gerenciamento de Negócios. A executiva conta com 33 anos de experiência na área financeira e passagens por IOB, IDG, Siemens, Xylem e Smiths Medical.

Stânia foi convidada para falar sobre a sua trajetória profissional em um Mentoring do IBEF Conecta Jovem, realizado neste mês de abril. Durante o evento, ela destacou a conquista das mulheres por espaço e a transformação da área ao longo dos últimos anos. “O financeiro deve estar dentro do negócio. O executivo de finanças que gosta de falar ‘não’ e fazer com que as pessoas retrocedam não existe mais”, destacou.

Primeiros passos e início da carreira em finanças

Nascida em Timóteo, cidade do interior de Minas Gerais, Stânia se formou no magistério e iniciou a carreira como professora, dando aulas na Apae. “Eu brinco que fui criada para casar, ter filhos, cuidar de casa e de marido. Então, eu tinha que fazer magistério. Eu não tive opção. Assim, eu comecei a dar aulas aos 17 anos”, contou.

A experiência como professora gerou habilidades que fariam a diferença, anos mais tarde, em posições de liderança. “Ter essa experiência me trouxe a capacidade de desenvolver o potencial máximo dos talentos das pessoas. Como ajudamos um liderado? Primeiro devemos identificar o que ele realmente gosta de fazer e aquilo em que é forte. O líder deve trazer isso à tona.”, ressaltou a CFO.

Após quatro anos no magistério, e recém-formada em Contabilidade, ela foi morar em Marabá (PA), onde teve sua primeira experiência na área financeira, na Tesouraria da Companhia Siderúrgica do Pará. No cargo, conviveu com crises, como o confisco da poupança, durante o governo de Fernando Collor, em 1990. Ela também exerceu a sua primeira função gerencial, como responsável pela área contábil da empresa. “Não sabia se estava preparada para isso, mas aceitei o desafio. Você escolhe dizer ‘não’ ou topar. Naquele momento eu topei e foi uma escola”.

Desafios como mulher no mercado de trabalho

Em cenário dos anos 1990, ainda muito marcado por estereótipos em relação à contratação de mulheres, Stânia conviveu com grandes desafios e um drama pessoal. Após deixar um emprego para engravidar, perdeu o primeiro filho, nascido prematuro, e conviveu com a falta de oportunidades e o preconceito. “Houve situações em que me falaram: ‘você tem 24 anos, é casada e mulher; você vai engravidar.’ Não me davam oportunidades”, contou.

A executiva conseguiu se recolocar em uma empresa de engenharia e construção, como contadora assistente. Durante essa experiência, engravidou do seu segundo filho e sofreu resistência do gestor direto, que chegou a preencher suas funções durante a licença-maternidade. No entanto, uma reviravolta mudou sua trajetória, quando o proprietário optou por promovê-la a um cargo gerencial, garantindo sua permanência.

Empresas internacionais e o salto na carreira

Após construir sua trajetória em empresas nacionais, Stânia partiu para sua primeira experiência com uma empresa estrangeira, a britânica Rexam. “Fui fazer minha primeira startup de operação. Eu diria que foi meu grande cartão de visita para a entrada no mundo corporativo internacional e em todo esse arcabouço de planejamento estratégico”, explicou. Na Rexam, ela foi promovida em pouco tempo para uma posição de gerência, responsável por contratações e implantação de processos.

A experiência seguinte foi na IOB, gigante brasileira da área de gestão empresarial. A CFO da Ciena lembrou que chegou à empresa em um momento de reestruturação, após a aquisição pela Thomson. “Um dos primeiros headhunters com quem entrei em contato fez o meu salário dobrar e eu fui trabalhar na IOB. Era uma questão de reestruturação, o que é mais pesado do que um início de operações, pois uma compra por uma multinacional derruba todo o status quo”, analisou.

No cargo, incentivou a qualificação dos funcionários com mais tempo de casa e participou de processos de aquisição no Sul do Brasil e na Argentina, o que culminou com sua promoção. “Em oito meses, fui promovida para controller da IOB em nível Brasil”, destaca.

Cargos de direção e networking

Aos 32 anos de idade, Stânia assumiu sua primeira função em diretoria, na IDG, um projeto que não deu certo, mas que possibilitou a ela traçar sua próxima etapa na carreira, a Siemens. “O diretor-presidente responsável por me contratar disse que a minha primeira tarefa seria conversar com os diretores financeiros dos nossos dez maiores clientes, lista que incluía empresas como Microsoft e Siemens. E foi o diretor financeiro da Siemens que me convidou para trabalhar lá, após eu sair da IDG. Ou seja, você nunca sabe onde encontrará a sua próxima oportunidade, então converse e faça o seu networking”, aconselhou a CFO.

Na Siemens foram vários os aprendizados, como reforçar o networking, apresentar projetos a stakeholders e criar uma sinergia entre os departamentos financeiro e comercial. Lá aprendeu a necessidade da parceria entre finanças e vendas, criando projetos e ajudando a fechar contratos. Segundo ela, os financeiros não devem perder a oportunidade de caminhar junto com as outras áreas de negócio.

A executiva ainda passou pela Xylem, empresa de tecnologia hídrica, onde participou da reestruturação do departamento financeiro e criou a área de controles, e pela Smiths Medical, assumindo como head de finanças e controles.

A evolução como CFO

“Eu fui contratada no último minuto do segundo tempo”. É assim que Stânia define sua chegada à Ciena, em um momento em que a empresa crescia em vendas e trouxe a executiva para criar uma estrutura financeira.  “Naquele momento, eu buscava um cargo de diretoria e bati o pé por isso. Por isso eu digo: não pense que o que você quer não é possível. Se você está trabalhando por aquilo, acredite”, ressaltou.

A CFO completa 10 anos na empresa em 2023, sendo responsável por Finanças, Contabilidade, Tributação, Gestão de Tesouraria, Compliance, Jurídico, entre outras atividades.

Posição de conselheira

Com a carreira consolidada na área financeira, a executiva passou a atuar também em conselhos de administração. Atualmente, ela ocupa cadeiras no conselho da usina de Furnas, na MCM Brand Experience e no Projeto Accounting for Sustainability (A4S).

Nesta nova função, ela destaca o papel dos profissionais da área financeira na gestão das políticas de sustentabilidade. “Como financeiros, estamos tomando uma nova responsabilidade nas empresas, que é a sustentabilidade. Não se fala em outra coisa. Precisamos medir isso”, completou.

Os desafios da liderança

Como CFO e com ampla experiência em cargos de gestão, Stânia encerrou fazendo uma reflexão sobre o papel da liderança em um momento de evolução e transformação da figura do líder dentro das empresas, “Devemos repensar a liderança, pois ela ainda está muito arcaica e hierárquica. Isso não funciona mais. A liderança tem que ser compartilhada e não pode ser mais autocrática, pois ninguém faz nada sozinho”.

A executiva destacou ainda o desafio do líder após o cenário de trabalho remoto, que se consolidou na pandemia. “A liderança precisou mudar muito por conta do trabalho remoto, pois não estamos mais próximos dos colaboradores e não temos mais domínio da agenda do time. Acho que perdemos um pouco das sinergias e devemos encontrar uma maneira de recuperar isso.  Por esse motivo, essa liderança precisa ser repensada e o seu formato mudado. Vamos ter que aprender”, finalizou.

Sobre o IBEF Conecta Jovem

 O IBEF Conecta Jovem promove encontros de mentoring, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento da carreira, por meio do diálogo e do aconselhamento com líderes experientes.

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