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“Para desenvolver a carreira, é mais importante ter flexibilidade do que ter certezas”, afirma Marcelo Bacci em mentoring do IBEF Conecta Jovem

Transições de carreira, desafios, decisões estratégicas e uma das maiores fusões da história do Brasil. Estes são alguns dos elementos que marcam a trajetória de sucesso de Marcelo Bacci, CFO da Suzano e presidente do Conselho de Administração do IBEF-SP.  O executivo contou um pouco da sua história e das etapas da sua carreira em uma mentoria do IBEF Conecta Jovem, realizada na última quinta-feira (18), na sede da Suzano, em São Paulo.

De empreendedor na faculdade a executivo da principal empresa de papel e celulose do país, Bacci destaca que o segredo da evolução na carreira foi aliar equilíbrio e flexibilidade para entender cada mudança e nova fase dentro da evolução profissional.

“O processo de crescimento foi me desarmar das receitas, porque fomos treinados para ter respostas. E há um momento na carreira em que ter resposta não resolve mais. É muito mais importante saber fazer as perguntas. É mais importante ter flexibilidade do que ter certeza. Você tem que escolher o seu caminho e ter alternativas para quando as coisas não derem certo. É ter resiliência e flexibilidade”, afirmou o CFO.

Formação e início no setor bancário

Nascido em São Paulo, Marcelo Bacci se formou em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 1990. Curiosamente, uma de suas primeiras ocupações teve relação com o mercado de papel, pois foi empreendedor em uma papelaria na própria faculdade.

Já sua carreira em finanças iniciou no setor bancário, como trainee no extinto Banco Nacional, que posteriormente foi adquirido pelo Unibanco (hoje parte do Itaú). Durante os oito anos em que permaneceu no setor, Bacci atuou em diferentes áreas, com destaque para tesouraria e mercado de capitais.

MBA nos Estados Unidos

A carreira bancária, no entanto, foi interrompida para dar espaço à realização de um sonho antigo: estudar fora do país. “Eu tinha uma vontade grande de estudar fora do Brasil e tinha adiado isso algumas vezes por oportunidades que surgiram no trabalho. Mas, em um dado momento, essa opção mostrou-se viável e eu fui fazer MBA”, afirmou o executivo.

O destino escolhido foi a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, onde o executivo estudou por dois anos, período no qual também teve a oportunidade de fazer um estágio no banco de investimentos Lehman Brothers.

Marcelo explicou que a escolha foi muito relacionada ao desejo de ter uma vivência fora do país, aliada à oportunidade de poder se dedicar integralmente. “O modelo de MBA que existe nos Estados Unidos e em alguns países da Europa é, ainda, muito superior ao que temos no Brasil. Principalmente pela dedicação do tempo. Eu fiquei dois anos estudando full time e, em nosso país, dificilmente você encontra algo assim”.

Ele também destacou a importância do MBA para a sua transição de carreira. “Talvez, se eu não tivesse feito essa parada, eu não teria enxergado outras oportunidades e seguido na área bancária”, completou.

No entanto, o CFO da Suzano ponderou com os jovens ibefianos sobre o peso da formação fora do país ou de um curso em período integral. “Depende muito da sua situação profissional. A formação acadêmica é importante, mas está longe de ser fundamental. Muito mais importante é saber aplicar o que você aprende de maneira efetiva. Não existe certo e errado. É importante saber o que funciona para você”, salientou.

Mudança de carreira e primeira vez como CFO

De volta ao Brasil, Marcelo Bacci fez uma transição de carreira, migrando do setor bancário para outras indústrias. Nessa trajetória, o executivo ingressou, em 2000, na Promon Engenharia, onde foi responsável por tocar novos negócios. Na empresa, iniciou sua ascensão até ocupar pela primeira vez a posição de CFO. “Lá eu tive muitas oportunidades. Entrei para ser o gerente financeiro e, um ano depois, me convidaram para ser o CFO da Promon, com apenas 31 anos de idade”, contou.

Bacci apontou a importância desta etapa, pois significou mudar para uma função totalmente gerencial e estratégica, na qual foi necessário olhar menos o micro e mais o macro. “Quando eu fui promovido para CFO na Promon, eu trabalhava em um andar com várias pessoas e me sentava em uma baia no meio da minha equipe. Aí eu passei a sentar em uma sala no andar da diretoria. Eu lembro que cheguei lá e me perguntei onde estavam as pessoas”, lembrou.

Ao assumir a posição de CFO pela primeira vez, foi fundamental entender a importância de saber delegar e confiar mais nos profissionais certos e preparados para desempenhar as atividades dentro da sua gestão. “O primordial são as pessoas, pois se você não tem uma equipe preparada, até os processos robustos falham em algum momento. Os processos dão contam de 80% ou 90% dentro da companhia, mas as pessoas qualificadas atuarão onde o processo não resolve, nas exceções e nos momentos em que você precisa do conhecimento e da profundidade analítica. O processo dá a base, mas não dá o brilho. Isso vem do time, pois as pessoas que vão melhorando os processos ao longo do tempo”.  

Após seis anos na Promon, o executivo partiu para um novo desafio, como CFO da Louis Dreyfus para a América Latina. Na empresa de commodities agrícolas, Bacci também permaneceu por seis anos, até chegar à Suzano.

Suzano

Bacci ingressou na Suzano em 2011, inicialmente para trabalhar na holding do grupo, cuidando do Family Office e participando de conselhos e comitês de algumas empresas. Em 2014, passou a ser CFO da Suzano, cargo que exerce até hoje.

Mais do que administrar o orçamento de uma das maiores empresas do país, Marcelo participou ativamente da expansão da companhia. Durante o seu período na Suzano, o EBITDA passou de R$ 2 bilhões ao ano para R$ 28 bilhões, em 2023. Essa trajetória contou com fusões, aquisições, construção de novas fábricas, além de diversos outros desafios, que consolidaram a empresa de 99 anos como a maior do setor.

“Eu não me sinto há nove anos no mesmo trabalho, porque a Suzano cresceu muito neste período e eu tive a oportunidade de participar desse processo. Foram nove anos bem intensos e de muito aprendizado, o que é fundamental para mim. O que me mantém motivado é essa capacidade que a empresa tem de me dar desafios diferentes, criar coisas novas e estar sempre aprendendo”, ressaltou Bacci. 

Um desses grandes aprendizados foi a fusão entre Suzano e Fibria, operação bilionária concluída em janeiro de 2019, que trouxe muitos insights para o executivo. “O processo de fusão foi muito importante e fez enxergar como uma empresa que operava de um jeito totalmente diferente tinhas resultados tão bons quanto nós”, afirmou. Essa análise foi importante na construção da cultura da nova empresa que a Suzano se tornaria após a fusão.

“Havia aspectos culturais parecidos e diferentes entre as duas companhias. Naquele momento, fizemos uma coisa muito certa, ‘esquecendo’ como era cada uma e desenhando uma nova empresa juntos, com os aspectos culturais que desejávamos que prevalecessem”, complementou Marcelo.

Organizar-se, pensar no macro e gerenciar

Em mais de 20 anos como executivo de finanças, Bacci fez uma reflexão sobre a importância de saber gerir pessoas para conseguir se desapegar de atividades operacionais e pensar de maneira mais estratégica.

“Quando eu assumi a primeira posição de CFO eu trabalhava muito mais horas do que trabalho hoje. Na evolução de carreira, você começa executando muitas coisas e, depois, assume funções nas quais você executa menos coisas e passa a gerenciar pessoas. Essa é a trajetória natural. Só que na faculdade você é treinado para fazer coisas e não aprende a gerenciar pessoas. É um aprendizado que vem, assim como o aprendizado de gestão de tempo, com a experiência”, explicou Bacci.

O CFO explicou aos jovens que hoje sua rotina é muito mais concentrada em decisões de investimento e estratégicas, como aquisições e grandes movimentos, construir uma fábrica, vender ou comprar ativos. “Mas para alcançar esse patamar, tive que passar bastante tempo no dia a dia do negócio. Com o crescimento, experiência e uma estrutura maior, eu consegui me organizar. Se você não se desprender de administrar alguns detalhes, não conseguirá fazer essa evolução; ficará atolado o tempo todo e não será protagonista do jogo”, completou.

Experiência em conselhos

Nos últimos quatro anos, o CFO da Suzano passou a acumular uma nova função como conselheiro, primeiro na BR Foods, entre 2020 e 2022, e, mais recentemente, na presidência do Conselho de Administração da Veracel Celulose.

“Conselhos funcionam de jeitos diferentes e variam conforme a configuração da empresa. Na Veracel, as duas empresas acionistas (Suzano e Stora Enso) atuam no mesmo setor. Então as discussões são profundas e específicas. Já na BRF, o conselho era composto por pessoas de indústrias diferentes. Há diferenças se a empresa é um joint venture, se tem controladores e se não tem controladores. Então você se adapta a esses diferentes cenários”, explicou Bacci.

Ele também ponderou como a experiência de executivo ajuda na atividade de conselheiro. “Como executivo, eu lido com conselheiros o tempo todo. E, enquanto conselheiro, procuro observar o que irrita o executivo. O que irrita é o conselheiro querer fazer a função do executivo, que está no dia a dia da empresa. O conselheiro atua na estratégia da companhia, se ele começa a entrar em detalhes do dia a dia, se perde. O papel do conselho é monitorar se as coisas estão indo bem e se a gestão está certa, além de dar um direcionamento estratégico”, salientou.

Bacci comentou sobre o desafio iniciado neste ano, na presidência do Conselho de Administração do IBEF-SP. “É um trabalho voluntário, que é pelo bem da nossa profissão. Foi um chamado de alguns colegas, que me convidaram para participar e eu achei muito legal. É uma forma de contribuir para o nosso ecossistema financeiro”, destacou. 

Inovação e capacidade de se adaptar

Marcelo Bacci finalizou abordando dois pontos importantes para uma boa trajetória profissional. O primeiro deles é a inovação e a necessidade de fazer reciclagens constantes para trazer novas soluções. De acordo com o executivo, é mais fácil capacitar um profissional especializado na indústria para usar novas ferramentas tecnológicas do que treinar alguém de tecnologia para aprender sobre uma nova indústria. “O especialista olha para a ferramenta e entende qual problema ela vai resolver”.

O segundo ponto é a capacidade de adaptação, fundamental para transitar e evoluir em um cenário de mudanças constantes. “Durante muitos anos, a minha carreira foi guiada por busca de eficiência, competência, entrega de resultados, que é a maneira como a minha geração foi treinada. Isso funcionou muito bem durante alguns anos e continua a ser importante, mas não é mais suficiente. As pessoas – e a sociedade – querem outras coisas. É fundamental entender que o ambiente mudou e você precisa mudar. É preciso sair das certezas e ter mais dúvidas”, finalizou.

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