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Piora forte da crise na Europa pode contaminar Brasil, diz Moody‘s

Agência de classificação de risco avalia que economia nacional seria atingida pela queda das exportações e pelo corte da concessão de crédito por bancos europeus a empresas brasileiras

Ricardo Leopoldo, da Agência Estado

SÃO PAULO – O vice-presidente sênior da Moody’s, Filippe Goossens, afirmou que uma piora forte da crise na Europa pode contaminar o Brasil. “Esse agravamento pode ocorrer mesmo que a Grécia permaneça na zona do euro, pois há problemas sérios a ser resolvidos em outros países do continente”, comentou, referindo-se sobretudo à Espanha e à Itália. Segundo ele, a economia nacional seria atingida por três canais: redução das exportações, corte vigoroso da concessão de crédito por bancos europeus a empresas que operam no País e redução sensível do consumo e de investimentos de companhias. Ele fez os comentários após participar de evento realizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) de São Paulo.

Na avaliação de Goossens, o mundo vive tempos sem precedentes, no qual a alta volatilidade e o ceticismo de investidores com os desdobramentos no curto prazo da crise da Europa podem atingir o Brasil, que desfruta de condições econômicas sólidas, especialmente em comparação com várias nações daquele continente. “A China tem grande conexão comercial com a Europa. Caso ocorra uma piora substancial dos problemas na zona do euro, pode ocorrer uma desaceleração vigorosa do país asiático. E isso poderá reduzir de forma substancial suas importações de matérias-primas”, destacou.

Por outro lado, o vice-presidente da Moody’s apontou que caso ocorra um colapso financeiro, mesmo que temporário, na Europa, os bancos com sede no continente que têm operações no Brasil poderão secar a concessão de crédito para companhias nacionais. “Pode ocorrer uma interrupção para liberações de empréstimos de toda a ordem”, disse.

Para Goossens, um terceiro canal de contaminação do Brasil em função de um agravamento vigoroso da crise na Europa pode ser registrado nas expectativas de consumidores e empresas. “O governo está interessado na redução dos juros em operações que envolve o crediário para a compra de produtos duráveis. Mas se a situação piorar muito, quem vai comprar tais mercadorias se ficar com medo de perder o emprego?”, questionou. Ele ressaltou que, no caso das companhias, a perspectiva de queda da demanda doméstica pode resultar numa desaceleração relevante de investimentos.

Exposição ao dólar

Filippe Goossens, afirmou que a exposição de débitos na moeda dos EUA é um dos maiores riscos imediatos para as empresas brasileiras caso ocorra uma piora expressiva da crise na Europa. “Mas isso é pontual. O principal caso é o da Gol, que tem 90% de sua dívida em dólar”, comentou. Um outro fator negativo seria a redução de concessão de crédito em geral para empresas nacionais, sobretudo por bancos europeus que operam no Brasil.

“A Gol vive uma situação muito difícil, especialmente porque é muito alavancada”, disse Goossens. Segundo ele, quando é analisado o nível de dívida total da companhia com seu Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) esse patamar atinge 13 vezes, quando o razoável para companhias do mesmo ramo seria atingir um múltiplo de sete vezes. “A empresa precisará encontrar uma solução no longo prazo para esta questão, que poderá vir de aumento de capital ou renegociação de seus compromissos financeiros externos”, disse.

Empresas

Filippe Goossens, disse que as empresas brasileiras não vivem mais problemas de exposição perigosa a derivativos cambiais – como ocorreu em 2008 e provocou a venda da Aracruz para a VCP, formando a Fibria, e da Sadia para a Perdigão, gerando a Brasil Foods. “As empresas aprenderam a lição com os fatos ocorridos no passado”, destacou, após participar de evento realizado pelo IBEF-SP.

Segundo Goossens, depois dos fatos ocorridos em 2008, ocorreu uma conjunção de fatores que tornaram as condições das empresas muito mais saudáveis e sem riscos significativos em relação a investimentos em derivativos altamente alavancados. “Melhorou muito a transparência das companhias e elas deixam claro, inclusive com a exibição de seus números contábeis, que não estão expostas a estes tipos de operações”, comentou.

Por outro lado, o vice-presidente da Moody’s destacou que a atuação do governo federal foi muito importante, através de supervisão e fiscalização, para que as empresas em geral no Brasil registrassem uma postura bem mais cautelosa e confortável sobre a atuação em mercados futuros. “É muito positiva a atuação dos agentes reguladores, pois nas suas atividades não dão condições para que os fatos ocorridos há alguns anos surjam novamente”, destacou.

Fonte: economia.estadao.com.br

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