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Tiago Azevedo compartilha ricos aprendizados de sua trajetória na área financeira em mentoring IBEF Jovem

Com uma vasta trajetória no mercado financeiro, Tiago Azevedo, CFO Brasil do Mercado Livre e Finalista do Prêmio CFO do Ano Equilibrista do IBEF SP, compartilhou o passo a passo de sua carreira e os grandes aprendizados que teve em mentoring do IBEF Jovem realizado no dia 29 de outubro, patrocinado pela Antecipa. Formado em finanças e administração de negócios pela University of Arkansas, Tiago teve longa passagem pela Unilever, onde atuou por mais de 13 anos em diversas posições; indo posteriormente para a Hershey Company até chegar ao posto de CFO no Mercado Livre. 

Ele aponta 10 aprendizados de carreira durante esse processo, compartilhando uma visão de abertura e determinação para galgar novos postos durante a trajetória. “Quando entrei na Unilever, eu era um analista financeiro na América Latina, não estava tão preparado para o mercado de trabalho, mas rapidamente consegui me adaptar à organização”. Ele conta que a companhia passou por uma reestruturação e as pessoas foram movimentadas, o que deu a ele grande exposição a um vice-presidente. “Como eu tive uma boa interação com ele, acabei sendo convidado para ir para o Chile na consolidação do business group“, diz. 

Na época, Tiago estava completando 1 ano e meio na Unilever. “O que eu percebi tendo esse contato direto com o VP foi a importância de procurar esses momentos onde há espaço para esse tipo de exposição. Acho que as organizações são cada vez menos hierárquicas e essa exposição é ainda mais possível hoje em dia”, aponta.

Entre 2005 e 2006, Tiago atuou como coordenador financeiro para América Latina da Unilever em Santiago, no Chile, e na época seu trabalho era de consolidação financeira, mas a experiência incluiu o encontro com pessoas que ele diz terem feito muita diferença em sua carreira. “Tive várias conexões boas, inclusive as mantenho até hoje, e o que essa rede me proporcionou foi o contato com polos de talentos onde pude desenvolver meu network e mentores”, destaca. 

Já em 2007, Tiago foi para Nova Jersey assumir o cargo de gerente planejamento financeiro para as Américas após mais uma reestruturação grande da Unilever. “Eu já estava há muito tempo em planejamento financeiro e estava no limite de buscar outras experiências. No entanto, naquele momento eu atuava há dois anos no Chile, onde tive uma exposição rápida, e queria outra experiência. O que a companhia me pediu para fazer foi a consolidação de FP&A nos Estados Unidos”. Segundo ele, o grande aprendizado nessa ocasião foi que às vezes é necessário fazer o que a empresa precisa que você faça. “Isso pode abrir oportunidades para frente”, destaca. 

Novo ciclo – Ao encerrar esse ciclo de planejamento corporativo para Estados Unidos, Canadá e América Latina na Unilever, Tiago buscou uma oportunidade local na operação dos Estados Unidos. Na época, ele assumiu a gerência da divisão de sorvetes da companhia, mas diante desse processo, ele viu que os aprendizados ocorrem mesmo quando há outra intenção do direcionamento que o profissional quer dar para sua carreira. “Na época, a vaga era dividida em duas: uma para o canal de conveniência e outra para o canal moderno, que representava 80% do negócio, e onde eu escolhi atuar. Mas não foi essa a vaga que acabei assumindo. Tive que aprender sobre o canal de conveniência, e vi que o que ganhava esse canal era a disponibilidade de produto, que era justamente onde o time de vendas tinha que atuar muito. Assim, fui conhecer como funcionava o trabalho desse time, e 50% do meu trabalho foi muito mais operações de vendas do que gerente financeiro do canal. Foi uma das melhores experiência que tive, viajei com o time e conheci diferentes áreas de vendas”. Segundo Tiago, nesse momento ele percebeu que é possível fazer o que quiser com uma vaga, e isso depende de onde o foco é colocado. 

A continuação dessa fase foi a junção das duas cadeiras entre o canal de conveniência e de canal moderno, sendo que Tiago foi promovido para assumir a posição de gerente da categoria sorvetes na Unilever nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, sua filha havia acabado de nascer e ele iniciou um MBA na NYU Stern School of Business. “Work life balance não existe. A gente tem que escolher, em alguns momentos, trabalhar e depois balancear com a vida pessoal. Acredito que temos que maximizar oportunidades quando elas estão lá. Tinha um MBA para fazer, uma vaga mais séria para entregar e minha filha para cuidar, e tive que fazer escolhas quando apareceram. Então, esses momentos são a hora de dar saltos em termos de entrega, e isso rende muito frutos”, diz, reforçando que é necessário entender quais são os movimentos de colocar o pé no acelerador na carreira.

Expansão da carreira – Após completar o MBA e ter adquirido bastante experiência em vendas, marketing e FP&A, Tiago percebeu que precisava expandir seus conhecimentos na área de finanças, pois ainda não tinha passagem por controladoria, conhecimento em auditoria ou experiência em implementação de sistemas. “Havia uma base muito grande que eu não tinha conhecimento e estava em um momento que se não tivesse essa base, ficaria sem um pilar chave e imprescindível para a carreira financeira. Também estava querendo voltar para o Brasil, quando surgiu a vaga de gerente sênior que tinha o escopo de tocar a área de controladoria e uma implementação de SAP”. Tiago assumiu a vaga em 2012, onde ficou por três anos. “Eu sentia que não tinha o conhecimento técnico, mas ou eu assumia ou ficaria estagnado na carreira”.

Segundo ele, essa foi uma fase desafiante em sua carreira, onde passou por dificuldades na gestão e que precisava de uma base contábil de gerenciamento de projetos e implementação de sistemas que ele não possuía. “No segundo ano nesse cargo, fui entendendo a situação e me apoiei em dois mentores que tive na Unilever. Assim, me abri mais para entender como deveria tocar o negócio”, diz. Tiago conta que ao final dessa atuação ele conseguiu montar o time correto, mas o ponto importante é que se há lacunas na carreira, elas não podem travar a atuação profissional de alguém. “Foi um momento em que a tendência era me fechar, mas decidi me abrir. Isso me deu muita coragem para as próximas mudanças”, destaca. 

Tiago foi ainda promovido para uma vaga de diretor de supply chain na Unilever, onde ele percebeu a diferença entre liderar e gerenciar. “É preciso deixar o time entregar as coisas. Eu vi a necessidade de liderar, buscar alinhamento organizacional, entender como o time se motiva, o que inspira, e investir mais tempo nisso. Somente tive esse clique quando percebi que não daria mais para gerenciar”, complementa.

Transição para CFO – Em 2017, Tiago assumiu o cargo de CFO na Hershey’s Brasil, e ele destaca que essa fase já foi resultado de um processo de crescimento em sua carreira, construído ao longo dos anos. “As vagas vão crescendo, não acho que dá para dar um salto, é preciso ir construindo isso, subindo escadas na carreira. Não senti necessariamente um choque de estar no C-Level, na realidade fui ganhando maturidade e aprendendo para onde precisava ir”, descreve.

Segundo ele, foi natural assumir o cargo de CFO na Hershey’s, e em termos de carreira, é sempre bom avaliar o que precisa ser feito adicionalmente, até eventualmente optar sair de uma empresa. “A Hershey’s é uma empresa americana, séria, e não seria uma aventura assumir o cargo, mas foi um desafio”. Assim, ele destaca que mesmo se as coisas estão indo bem, não significa que não seja hora de mudar. “Não deixe a bola parar”, recomenda.

Já na Hershey’s, Tiago conta que criou uma área de e-commerce, assumindo um papel comercial onde a companhia poderia vender através de site e definindo a estratégia de implementação do comércio eletrônico. “Comecei a falar com muita gente do ramo, a me preocupar sobre como me manter relevante como profissional e como pessoa, e conversei com pessoas que me tiraram da zona de conforto. Eu sentia necessidade de conhecer o mundo de pagamentos, fintechs, e-commerce, esse tipo de organização”. 

Nesse momento, Tiago decidiu por sair da Hershey’s, uma decisão que ele considera precoce, mas ainda assim ele avalia que sua passagem pela companhia teve como resultado grandes entregas. “Surgiu a oportunidade no Mercado Livre e eu a abracei para adquirir esses aprendizados”. Diante dessa experiência, Tiago aconselha que todos devem ter um plano de desenvolvimento pessoal para ajudar a nortear as decisões de carreira, apontando suas fortalezas, desenvolvimento, ambição de longo e de curto prazo. “Quando não se tem isso, qualquer caminho serve e você não vai saber bem que decisões tomar de carreira, por não ter clareza sobre para onde quer ir”. 

Experiência no Mercado Livre – A vivência de Tiago no Mercado Livre nos últimos dois anos trouxe experiências essenciais sobre a atual mudança que ocorre no mundo dos negócios, sendo que o primeiro fator é que cada vez mais a tecnologia impacta crescimentos exponenciais em vário setores. “Dentro do Mercado Livre, eu vejo o foco que temos no usuário, as inovações que vão impactar a massa grande de consumidores, e propostas com alto impacto e escala, e isso muda muito o jeito de pensar”, conta. 

Ele aborda ainda a importância de ficar antenado às mudanças no mundo de pagamentos, com open banking, PIX, fintechs e moeda digital. “O mercado de pagamentos vai mudar de tal forma que, caso você não conheça o arcabouço do sistema financeiro nacional, é necessário conhecer, pois eu diria que daqui 5 ou 10 anos a probabilidade é grande da sua empresa estar conectada a uma carteira digital. Isso está mudando muito”, diz, reforçando a importância de se aproximar dessa agenda.

Ele apresenta ainda o modelo de negócio das big techs segundo a visão do Professor Scott Galloway, da Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York. Esse modelo inclui conceitos como growth to margin; career accelerant; appealing to human instinct; rundle; vertical integration; Network Effects; likeability; e visionary storytelling. Tiago destaca que o executivo financeiro deve entender onde essas mudanças se encaixam no modelo de negócio de sua empresa e como elas impactam o usuário. “Como financeiros, devemos adaptar nosso modo de pensar para encaixar como isso funciona nos novos modelos de negócio”.

Aprendizados – Tiago resume sua experiência profissional, passando por diversas áreas no setor financeiro, com destaque para alguns pontos de aprendizados mais fortes. “Destaco o FP&A, pois percebi que o principal é ter times movimentando os negócios e o maior impacto não é fazer forecast. Eu sinto que FP&A em muitas organizações é um gerenciador de processos que tira o foco do crescimento”. Ele destaca ainda sua experiência em tesouraria de uma fintech, conhecendo como funciona o sistema financeiro e de pagamentos.

Tiago reforça que percebeu o quanto é necessário o desenvolvimento de data management e analytics com base em um projeto que está em implantação no Mercado Livre. “Os impactos para os CFOs diante dessas mudanças estão em entender que há novos modelos de negócios e por quais alterações o negócio deve passar, como será a transição de gerenciamento de processos, analytics e transformação no mundo de pagamentos, que está cada vez mais acelerada”.

Ele ressalta a necessidade de performance em real time, saber que volatilidade e incertezas não são controladas com processos e burocratização, a necessidade de ter skills em BI e machine learning, a capacidade de aprender e desaprender, e a diversidade e especialização na área finanças para se adaptar aos novos modelos de negócios que estão por vir. 

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